Alexandre Pires em dueto com Kelly Clarkson: aceito no clube hispânico. |
Rio de Janeiro – Os brasileiros conseguiram se infiltrar na seção geral nesta quarta edição do Grammy latino, realizada na noite desta quarta-feira em Miami, mas apenas uma indicada conseguiu um gramofone dourado em uma das nove categorias gerais que tiveram brasileiros indicados. Xuxa Para Baixinhos 3 ganhou na categoria de melhor álbum infantil, e sua premiação não foi mostrada na transmissão ao vivo. O grande vencedor da noite foi o jovem colombiano Juanes, que mistura a cumbia de seu país com o pop rock internacional, que lhe valeu cinco prêmios.
A esperada primeira apresentação dos Tribalistas esbarrou na falta de respeito da rede CBS, que transmitiu o evento. Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes foram os últimos a subir ao palco, daí a emissora jogou os créditos em cima, um locutor falando dos critérios da premiação e um corte sumário no meio de Já Sei Namorar. Os Tribalistas tiveram cinco indicações, três delas na seção geral, mas levaram apenas o prêmio de melhor álbum pop contemporâneo brasileiro.
Fora Xuxa, o Brasil ficou restrito às sete categorias que premiam exclusivamente a música brasileira. O encontro inspirado de Caetano Veloso e Jorge Mautner em Eu Não Peço Desculpas é o melhor álbum de MPB, enquanto os Paralamas do Sucesso viram coroado seu retorno com a premiação de melhor álbum de rock para Longo Caminho. Mestre Dominguinhos levou o gramofone de melhor álbum regional com Chegando de Mansinho, com Zezé di Camargo e Luciano levando o prêmio de álbum sertanejo pelo disco que leva o nome da dupla.
A retomada de Alcione com o álbum Ao Vivo foi reconhecida na categoria samba. Tristesse, interpretada por Milton Nascimento e Maria Rita Mariano é a canção do ano. Os Tribalistas adotaram no palco o formato dos acústicos da MTV, apresentando-se sentados, com instrumentos acústicos e acompanhados apenas pelos dois músicos que participaram do disco, Dadi e Cézar Mendes. Marisa tocou violão, Brown comandou um set de percussão e o elétrico Antunes cantou sentado com um enorme fone de ouvido. O ministro da Cultura Gilberto Gil, homenageado na véspera como personalidade do ano do Grammy, concorria na categoria de melhor álbum pop contemporâneo brasileiro com Kaya N?Gan Daya. Os Tribalistas levaram.
Brega
A festa reforçou o estereótipo de que latino é tudo brega. Um mau gosto pavoroso de ponta a ponta, com um cenário totalmente poluído para ser assimilado pelas milhões de pessoas que viram a festa na tela pequena de um televisor, cantores e apresentadores com modelitos horrorosos e muita música de descarado apelo comercial. Alexandre Pires e Ricky Martin cantaram baladas lacrimosas, a bela mexicana Thalia e o revelação David Bisbal, vencedor do Fama espanhol, saíram pela música dançante na linha disco. O grupo mexicano tradicional El Recodo teve a seu favor a autenticidade, com aqueles metais estridentes que caracterizam os mariachis, enquanto o grupo Molotov mostrou a cara do México moderno, com um rock pesado e rapeado. Juanes tocou com o grupo americano de rap, Black Eyed Peas, numa canção de apelo pop contagiante.
Celia Cruz
A rainha da salsa Celia Cruz, que morreu em julho, foi homenageada na abertura da noite com um pot-pourri interpretado por dez artistas, entre eles Gloria Estefan, Arturo Sandoval e Marc Anthony. Entre os apresentadores de prêmios estava o veterano cantor hispânico Jose Feliciano, que Natalie Cole elogiou como pioneiro da música hispânica. Tudo isso e muitas exortações pelo fortalecimento da identidade hispânica, que o apresentador George Lopez alertou ser a maior minoria da América, com 39 milhões de pessoas. Algumas camisetas defenderam a causa, como a de Juanes, que dizia “Se habla español”. Mas todos falaram em inglês.