Bordados do Piauí no Memorial de Curitiba

O Memorial de Curitiba, espaço da Prefeitura Municipal administrado pela Fundação Cultural de Curitiba, abriga, a partir de quinta-feira (13), a exposição ?Bordados da Caatinga?. O público terá a oportunidade de conhecer e adquirir a produção artesanal das moradoras de Dom Inocêncio, no sudeste do Piauí, tornando menos árdua a luta travada por essas mulheres contra a seca. A mostra permanece até o dia 23 de julho, com horário de funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h; sábados e domingos, das 9h às 15h. A entrada é franca.

As 20 mil peças bordadas em linho e cânhamo, que estarão à disposição dos visitantes, representam o trabalho meticuloso de 700 bordadeiras amparadas pela Fundação Ruralista, organização sem fins lucrativos que desde 1963 presta assistência a populações rurais do Piauí. Por meio do programa ?Bordados da Caatinga ? Mulheres Artesãs de Dom Inocêncio?, as participantes encontraram uma oportunidade de ocupação e renda na região mais pobre, isolada, seca e desconhecida do nordeste brasileiro.

Onde a água é um milagre e os homens têm poucas possibilidades de trabalho, as mulheres foram promovidas a provedoras do sustento da casa. 

Bordados contra a seca

As bordadeiras sempre estiveram presentes no artesanato do Nordeste, utilizando técnicas trazidas pelos portugueses, na época colonial. Mas em pleno sertão do Piauí, essas profissionais surgiram como conseqüência do trabalho desenvolvido pela Fundação Ruralista, que tem como figura principal o Padre Manoel Lira Parente, o Vô Padre, como é carinhosamente tratado pelas bordadeiras.

Nascido em Bom Jesus do Gurguéia, no Piauí, Padre Lira cresceu num ambiente familiar no qual as mulheres da casa dedicavam algumas horas do dia à arte dos bordados em ponto de cruz. O trabalho era atentamente observado pelo garoto, que considerava aquela atividade misteriosa e fascinante. Depois de adulto, após longa permanência em São Paulo, Padre Lira retornou em 1963 ao Piauí, com o objetivo de implementar a obra da Fundação Ruralista e introduzir a técnica do bordado naquela região.

A fundação foi criada para fixar a população na sua terra, evitando as penosas migrações para outros estados brasileiros. Em 1965, Padre Lira abriu a primeira escola rural, com um calendário escolar adaptado à realidade econômica, social e climática da região. Hoje já são 15 escolas que, mesmo construídas de maneira simples, continuam ministrando aulas para estudantes em vários estágios de aprendizagem, ensinando bordado e servindo três refeições por dia a todos os alunos.

Durante os meses de aula, algumas famílias mudam-se para os barracos que rodeiam os muros da escola. O pai fica no sítio, trabalhando na terra quando há chuva ou integrando as frentes de trabalho, quando é tempo de seca. A mãe acompanha os filhos em idade escolar, sendo que as meninas ocupam lugar de destaque na estrutura familiar. As aulas de bordado, freqüentadas no período livre das obrigações escolares, criam uma importante ? e muitas vezes única ? fonte de renda para as famílias. Todos os bordados são pagos pela fundação, com o resultado das vendas feitas no sul do país.

Padre Lira utiliza a escola para motivar os habitantes da região mais subdesenvolvida do Nordeste brasileiro à participação comunitária.  Manuseando enxada e agulha, as bordadeiras são verdadeiros instrumentos da organização social produtiva, da luta pela melhoria da qualidade de vida e da fixação do homem na terra. Os bordados reunidos no Memorial de Curitiba, além da excelente qualidade artística e do valor cultural, revelam a força inventiva e produtiva da comunidade de Dom Inocêncio, no Piauí.

Serviço:
Memorial de Curitiba
(Rua Claudino dos Santos, s/n ? Setor Histórico)
Exposição ?Bordados da Caatinga: Artesanato de Dom Inocêncio ? Piauí? (os trabalhos estarão à venda)
De 13 a 23 de julho de 2006
Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h; sábados e domingos, das 9h às 15h
A entrada é franca

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