Ben Ratliff escreveu sobre eles no "New York Times" do dia 2 de abril. A revista "Rolling Stone" deste mês diz que eles são uma das 10 novas bandas que o sujeito mais antenado do planeta música deve conhecer. E eles nem têm um disco ainda. Quem são eles? Três garotos de Curitiba cujas idades somadas dão quase a mesma do baterista dos Rolling Stones Charlie Watts. Sob a alcunha de Bonde do Rolê, fazem furor com seu "baile funk love bastard". Ou seja: misturam a estética bootleg, pirata (de rapinar coisas de outros grupos célebres) com a mecânica do funk carioca e a zoeira liberticida dos bailes funk.
Letras escatológicas, batida esquizofrênica, vocais bizarros: eis a fórmula do Rolê (o nome foi tomado emprestado de uma lanchonete que existe em Curitiba, a Lanches Rolê, na Avenida Vicente Machado).
O grupo barbariza no mau gosto explícito. Como na letra de "Cai nimim", que parece uma versão sarjeta do Scissor Sisters: "Tô aqui, safado/Colei na tua goma/Seu imundo lazarento/Por você eu mordo fronha". Já o "Melô do Caldinho Knorr" é coprofágico, não requer citação. E aí vêm "Melô do Tabaco", "Dança da Ventuinha". "As guria é freakshow/Mas é boa com os malandro/Cala a boca e sopraí/Relô pivô eu tô socando". Concordância verbo-nominal é luxo que o funk faz questão de desconhecer.
Os meninos do bonde curitibano foram contratados pelo selo Mad Decent, do americano DJ Diplo, da Filadélfia (colaborador e namorado de M.I.A.). Nos próximos dias, estão indo à primeira turnê internacional, Estados Unidos e Europa, ao lado da revelação paulistana Cansei de Ser Sexy. Seu som pode ser ouvido no site http://www.myspace.com/bondedorole
Quem são vocês?
Pedro D?eyrot – Tenho 22 anos, sou DJ de electro. Antes tinha uma banda de hardcore, lá pelos meus 16 anos.
Marina Ribatski – 21 anos, ex-riot grrrl. Acabei entrando no funk depois de iludida pelo Pedro e pelo Rodrigo de que estava entrando numa banda de eletrorock.
Rodrigo Gorky – 25 anos, um nerd completo quando o assunto é música, e também DJ. Quando comecei a tocar, minha inspiração veio dos 2 Many Djs.
Quando as tias, as mães e as avós de suas famílias ouvem canções como "Melô do Caldinho Knorr", qual é a reação?
Rodrigo – Meus pais ouviram, mas não acabaram não entendendo muito – ficaram dançando e só depois que expliquei sobre o que era, que ficaram enojados!
O que o pessoal do funk carioca tem dito de vocês? Já tocaram por lá?
Pedro – O Catra curtiu nosso som e a Deize Tigrona também, por serem dois nomes que são um pouco menos xiitas em relação as vertentes do funk.
O chamado "pop bastardo" foi influência para vocês?
Rodrigo – Definitivamente! Ouvi o primeiro set do 2 Many DJs por volta de 2001, 2002, e desde então sou megafã!
Vocês usam coisas do rock, como Alice in Chains AC/DC. Vocês curtem mesmo rock ou é só rapinagem?
Marina – Sempre fui fã da Courtney Love e de Sleater Kinney.
Rodrigo – Gostava, cresci em uma casa que só se ouvia Smiths e Dire Straits, não poderia sair outra coisa!
O (DJ americano) Diplo meio que virou um "padrinho" de vocês. Como pintou essa colaboração?
Pedro – A gente não tem idéia de como ele apareceu ao certo, mas o bom é que acabou acreditando na gente!
São Paulo sempre teve uma cena muito quente na eletrônica escrachada, com bandas como Que Fim Levou Robin? e agora o Cansei de Ser Sexy. Esse pessoal teve influência em seu som?
Rodrigo – Whoa! ‘Amava o Que Fim Levou Robin’! Vi eles na Xuxa quando era pequeno…
Marina – As meninas do CSS são incríveis!
Pedro – É, acho que a turnê vai ser uma festa só… E, ah, não acho que tenham influenciado, mas mostraram um novo caminho para divulgação.
Vocês eram mesmo freqüentadores da lanchonete Rolê? É muito podreira ou é cool?
Marina – O Rolê é classe A.
Pedro – Mas os fdp não dão nada de graça pra gente, mesmo com todo esse jabá pra eles!
Rodrigo – Verdade…
Curitiba não é muito conhecida pelo senso de humor. Como tem sido a reação da cidade à sua nova banda-sensação? Vocês fazem show fácil na cidade?
Rodrigo – A cidade em si se leva muito a sério, mas já saiu o Manymais daqui, por exemplo (do Rap do Chucky, alguém lembra?).
Marina – Pô, Relespública é pra ser engraçado também, não?
Pedro – A gente tá fazendo mais shows lá fora do que no Brasil!
Como é o lance da festa Big Mutha, que tem o Rodrigo e o Pedro djying?
Rodrigo – É a festa mais divertida que tem aqui em Curitiba… Tocamos de tudo, o povo ?compra? a idéia quando tocamos. Aliás, não existiria o Bonde sem a Big Mutha…
As coisas mais pesadas, escatológicas, de suas músicas já lhes trouxeram problemas?
Pedro – Até agora nenhum, só soluções… Hehehehe!