Boleros e instrumentais em “O Homem do Ano”

Para traduzir em sons e ritmos a história do homem comum que, após algumas desafortunadas conspirações cotidianas, transforma-se em um matador e vê sua vida virar do avesso, optou-se por fundir os dois tipos de trilha sonora em um único CD. Assim sendo, O Homem do Ano (EMI-Odeon) chega às lojas junto com o filme com uma seleção de músicas mais “comerciais”, e metade com composições (quase) instrumentais, espécies de texturas que dão cor e nuances aos frames projetados na tela.

Na parte “cantada”, chama a atenção a grande quantidade de boleros elemento que reforça a veia urbano-popular da história. Do fundo do baú, ressurgem com força total dois ícones de décadas atrás. Cauby Peixoto solta a franga na versão em português de Avec, hit da chansoniére francesa composto por Franck Pourcel e Charles Aznavour que, por sinal, é atualíssimo e pede para ser descoberto por alguma banda indie norte-americana. Os saudosistas também podem vibrar com Lucho Gatica e seu standard Sabor a Mi. Hyldon, soulman brasileiro dos anos 70 que nos últimos anos vem sendo cultuado e redescoberto, abre o disco com As Dores do Mundo, soul finíssimo, que pende para a veia abolerada da música brasileira daquela época.

Sortidas

Há ainda faixas sortidas (Fernanda Abreu com um charm do seu primeiro disco solo; progressões eletrônicas que fazem a festa dos fãs de ambient trance; surf music californiana made in Rio de Janeiro) e um petardo dos hermanos Los Fabulosos Cadillacs. El Matador, não é tão nova assim e ainda caiu feito uma luva para a história adaptada do best-seller da escritora Patrícia Melo. É um samba-reggae literalmente matador, de fazer inveja a qualquer popstar da música baiana. É uma aula rítmica que músicos do primeiro escalão do mercado fonográfico brasileiro parecem ter esquecido em alguma prateleira de grande gravadora.

Dado Villa-Lobos é o responsável pela trilha “incidental”. Passeia entre o climático e o pesado e ainda se arrisca em uma curiosa regravação de Bolero, de Ravel. Criativo, optou por um arranjo de apenas dois minutos (o que evitou a repetição que marca a composição original e ainda enche o saco de muita gente) e ainda adicionou vibratos e teclados bastante soturnos à melodia trançada pelas cordas mais graves da guitarra. De quebra, Jayme Villa-Lobos (com certeza, parente) regrava a beleza do minimalismo de Erik Satie (Les Trois Valses Distinguées du Précieux Dégoute).

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