No país do futebol, a estréia mais esperada deste ano de Copa é "Boleiros 2", de Ugo Giorgetti. Mas não faltarão outros títulos relacionados ao jogo, como "O Dia em Que o Brasil Esteve Aqui", "Ginga" e, talvez, "Linha de Passe", se o diretor Walter Salles aprontá-lo a tempo.
Há também uma surpresa, e na forma de curta-metragem. "A Noite do Capitão" recua no tempo e vai a 1950, ano da fatídica decisão contra o Uruguai, na qual o Brasil, jogando em casa e pelo empate, acabou perdendo. O grande "culpado" pela tragédia teria sido o capitão uruguaio, Obdulio Varela que, com sua garra, levou a Celeste Olímpica à conquista. O diretor Adolfo Lachtermacher adapta um relato de Eduardo Galeano (do livro "Futebol ao Sol e à Sombra", da L&PM), segundo o qual, depois do jogo, Obdulio teria saído pela noite do Rio e bebido cerveja com torcedores inconformados, que não o reconheceram.
Em "Boleiros 2", Giorgetti retoma sua bem-sucedida ficção sobre os personagens do mundo do futebol. Nesta continuação, aprofunda alguns temas já esboçados no primeiro filme, como a internacionalização do jogo, com o êxodo de atletas para o exterior e a figura do empresário, hoje o verdadeiro dono da bola no Brasil.
O cinema documental também se ocupa do futebol em 2006. Um deles é "O Dia em Que o Brasil Esteve Aqui", sobre a ida da seleção brasileira ao Haiti, para o "jogo da paz", em agosto de 2004. Dirigido por Caíto Ortiz e João Dornelas, o filme é menos sobre o jogo do que sobre os bastidores da ida da seleção a um país conflagrado e com presença militar brasileira. Na véspera da partida, os soldados distribuíam camisetas amarelas, que eram disputadas como sacos de comida por uma população faminta. Um dos brasileiros entrevistados fala em "soft power", o poder de conquistar corações e mentes através da persuasão. E do bom jogo de Ronaldo e Ronaldinho, naturalmente.
"Ginga", de Hank Levine, Tocha Alves, Marcelo Machado é um filme patrocinado pela Nike sobre a arte do drible no futebol brasileiro. Reúne jogadores famosos, como Robinho e Falcão, além de anônimos, que jogam nas peladas, e outros, que buscam oportunidade em um grande clube. O filme fica marcado pelo veto do Corinthians às pedaladas que Robinho aplicou no lateral Rogério, na final do Brasileirão de 2002.
A lista ficaria mais completa com a inclusão de "Preto contra Branco", produzido para a série do Minc, DocTV. Wagner Morales revela uma tradição de 32 anos em Heliópolis – a partida anual dos negros contra os brancos. Como a maior parte da população é mestiça, fica a dúvida: de que maneira escalar os times? A partir do futebol, Morales realiza uma interessante reflexão sobre a sociedade brasileira, questionando a tese da "democracia racial", mas mostrando o estilo brasileiro de acomodar diferenças. O futebol serve como ritual dessas atitudes conflituosas. O filme merecia chegar aos cinemas.