Bocejos na boca da urna

Responsável pelas regras que ditam a cobertura televisiva no período eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral pagou um grande “mico” nas votações do dia 6 de outubro diante de milhões de espectadores. Com regras rígidas para a cobertura de telejornais e a campanha dos políticos no Horário Eleitoral Gratuito, o TSE acabou encurralado. Para não deixar as emissoras sem ter o que anunciar no dia das votações, resolveu liberar a divulgação dos números parciais da eleição mesmo com eleitores ainda esperando para votar.

Como o tempo esperado de 1,5 minuto de votação para cada um dos mais 110 milhões de eleitores brasileiros foi insuficiente, durante a madrugada ainda havia eleitor na fila e espectadores diante da tevê esperando o resultado da eleição. Com isso, as emissoras tiveram de improvisar. Previstos para começarem a surgir às 17h, só às 20h os primeiros números relacionados aos candidatos à Presidência começaram a ser divulgados.

Como Globo, Record, Band e TV Cultura estavam com programas especiais relacionados à votação já no ar, não houve saída para o TSE senão infringir a lei. Ou seja, o controlado período eleitoral acabou chegando ao final sem controle. Muitos eleitores podem ter sido influenciados pelos resultados parciais divulgados na televisão e ter dirigido o voto de acordo com eles. Enquanto os números não chegavam, Alexandre Garcia e Franklin Martins na Globo, Boris Casoy na Record e Marcia Peltier na Band, tiveram de “rebolar”. Casoy acabou se destacando dos concorrentes. Com um senso crítico mais apurado, o apresentador da Record foi o mais contundente nas análises e durante sete horas seguidas debateu com várias personalidades, como o senador do PT Eduardo Suplicy e o deputado federal paulista Michel Temer.

De olho nos números

Boris chegou a alcançar 9 pontos de pico e ficou em terceiro lugar na audiência com média de 3 pontos entre às 20h35 e 0h12. Apesar da Band ter mostrado mais agilidade na cobertura, a emissora não conseguiu empolgar e teve a fraca média de 2 pontos. A baixa audiência pode ser explicada pelo fato de Márcia Peltier se restringir à posição de “âncora” e os convidados da Band serem na maioria cientistas políticos desconhecidos. Já a Globo optou em não receber convidados e concentrar-se mais nas informações lidas por Alexandre Garcia e as análises de Franklin Martins. Mas Franklin só fazia comentários quando os números apontavam para alguma tendência tão óbvia que qualquer criança poderia detectar. O que tornou sua presença totalmente dispensável.

Mesmo assim, a Globo conseguiu o primeiro lugar na audiência e o SBT a segunda colocação. Isto prova que o espectador estava mais interessando em saber dos números simplesmente do que acompanhar análises políticas. Se não, teriam ficado na Record, Band e TV Cultura, que praticamente derrubaram a programação dominical para cobrir as eleições ao vivo. Mas preferiram acompanhar o “Domingão do Faustão” e “Domingo Legal”, que empataram em 21 pontos cada, e depois o “Fantástico” ou o “Show do Milhão” e o infame “Ilha da Sedução”. Tanto que das 20h até à meia-noite, a Globo cravou 36 pontos, chegando ao pico de 48 no “Fantástico” às 21h44, e o SBT manteve 15 pontos de média, cinco vezes mais que a Record.

O mais enervante foi ver Gugu Liberato e Fausto Silva “se fingirem de mortos” logo no início das apurações. Mesmo já sabendo que as votações estavam atrasadas, os dois apresentadores ignoraram o fato. Principalmente Gugu, que apoiou Serra para Presidente. Em seu programa só foram vistos infames telegramas legais e um brasileiro que mora nos Estados Unidos procurando namorada. Faustão enveredou por caminho parecido e teve como “atração” a cantora Alcione, que apesar do talento atravessa um período obscuro em sua carreira. Só não foi pior porque o “Domingão” foi merecidamente interrompido por boletins jornalísticos.

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