Bob Balser comanda bate-papo com público do Anima Mundi

“Não sei citar os animadores que mais gosto de assistir hoje em dia, mas, quando vejo os desenhos que o diretor de O Menino e o Mundo fez, é disso que gosto. É este traço que só a mão do animador é capaz de fazer que me interessa.” Assim o diretor Bob Balser responde ao jornal O Estado de S.Paulo após ser indagado se, aos 87 anos, ainda gosta de ver trabalhos de novos animadores. A conversa aconteceu na quinta passada, no Rio, antes de o animador americano ministrar o concorrido Papo Animado, bate-papo e masterclass que convidados do Festival Anima Mundi ministram todos os anos.

O papo, que lá mobilizou os fãs e também os animadores profissionais até tarde da noite, ocorre em São Paulo nesta quarta-feira, 6, às 20 horas, no Espaço Itaú Augusta. Antes, às 18 horas, a obra que tornou Balser uma autoridade mundial da animação tem sessão especial: Yellow Submarine, o clássico que levou para as telas as cores psicodélicas das canções dos Beatles em 1968.

Antes de falar mais do longa e do processo de criação de sequências que entraram para a história e até hoje influenciam artistas de todo o mundo, Balser, um dos diretores de animação do longa, concluiu seu pensamento sobre O Menino e o Mundo, que tem direção do brasileiro Alê Abreu. Com o longa, ele venceu este ano o mais importante festival de animação do mundo, o Festival de Annecy, na França. Além do prêmio, Abreu ganhou notoriedade internacional e entrou para a fila dos favoritos a uma vaga entre os finalistas ao Oscar de melhor animação. “Eu, que sou membro votante da Academia e vejo tantos filmes todos os anos, posso dizer que ele tem toda chance”, completou o animador.

Quando um elogio desses vem de alguém como Balser, é bom ficar de olho. “O que quero dizer é que o que dá alma a um desenho é a mão do animador. É ver os traços se propagando pelo papel, pela tela, que faz a diferença”, declarou o cineasta.

Mais tarde, diante de um público jovem, disparou: “Sei que as técnicas digitais estão dominando o mercado hoje, que o processo fica mais prático e mais rápido, mas, a meu ver, animação digital, de computador, não tem alma.”

O silêncio que se fez na plateia foi tão eloquente quanto a atenção que se seguiu à declaração, à medida que Balser começou a exibir trechos de Yellow Submarine e

a contar detalhes divertidos dos bastidores da feitura do longa.

“A primeira dica que eu daria a vocês, jovens, é que, quando forem fazer um filme, não façam como nós fizemos. Tenha um roteiro pronto e bem feito. Nós tínhamos dezenas de bons profissionais, desenhistas incríveis, muito material bom sendo feito, mas não tínhamos uma história fechada. Isso em um determinado ponto do filme foi motivo de tensão”, contou ele, que, entre outros trabalhos, também dirigiu a série The Jackson Five, entre 1971 e 1972; e foi supervisor de diversos episódios de The Charlie Brown and Snoopy Show, em 1985.

Trechos destes trabalhos também serão exibidos no papo de hoje, além das animações para o mercado publicitário espanhol que precederam Yellow Submarine. Foi, aliás, o bom trabalho de Balser na Espanha que despertou o interesse dos produtores ingleses do longa-metragem que mudou sua carreira. “O estúdio TVC me chamou para ir a Londres mostrar meu trabalho. E assim tudo começou”, disse ele à reportagem. “Tínhamos pouco tempo, orçamento enxuto, muitos talentos e vários roteiros, mas nenhum incrível. Mas tínhamos como certo de que seria uma viagem dos Beatles em um submarino amarelo. Poderíamos usar as canções e, assim, começamos a animá-las imediatamente”, explicou.

Balser também contou que, quando já havia uma grande quantidade de cenas animadas, mas que ainda precisavam ser roteirizadas, ele e o codiretor de animação Jack Stokes passaram uma noite em claro criando uma linha narrativa para elas. “No filme, eu era responsável por dirigir a viagem até Pepperland e o Jack, a sequência passada lá. Nesta noite, trabalhamos juntos. Valeu a pena. Acredita que, quando o filme ficou pronto, eu não gostei? Via muitos defeitos. Somente tempos depois fui aprendendo a gostar e me orgulhar”, revelou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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