Leitores, fãs de James Joyce, atores e curiosos se encontram nesta segunda-feira, às 17 horas, na Casa Guilherme de Almeida (Rua Macapá, 187), para dar a largada a uma caminhada com algumas paradas para performances teatrais, rumo ao pub Finnegan’s (Rua Cristiano Viana, 358), palco principal do Bloomsday paulistano. É dia de lembrar o escritor James Joyce, que situou “Ulisses”, sua obra monumental, em 16 de junho de 1904. Nesse dia, o protagonista Leopold Bloom perambula pelas ruas de Dublin pensando em Molly. E foi nesse dia que Joyce saiu pela primeira vez com Nora, sua companheira de uma vida.
Desde o final da década de 20 do século passado, o Bloomsday é comemorado ao redor do mundo. A festa maior é feita em Dublin, claro. Lá, fãs se fantasiam e passeiam pelos cenários do romance, param para uma pint no centenário Davy Byrnes Pub e fazem leituras da obra do cultuado autor. Em São Paulo, onde a data é comemorada desde 1988 por iniciativa de Haroldo de Campos, também haverá gente fantasiada de Leopold Bloom, Molly e James Joyce, mas os personagens serão encarnados por atores de companhias como Lona de Retalhos, Grupo CGI, Núcleo Zona Autônoma, Quarteto à Deriva e Uma das Três. Eles foram convidados pelos atores Lígia Helena e Paulo Gircys, da Cia. Estrela D’Alva de Teatro, responsáveis pelo espetáculo Ulisses Molly Bloom – Dançando Para Adiar, para ajudarem no que chamaram de Encontro Peripatético, que passará pela Cardoso de Almeida, Dr. Arnaldo, Teodoro Sampaio, Capote Valente e Arthur de Azevedo até chegar ao Finnegan’s, onde uma grande programação começa às 19 horas.
O organizador Marcelo Tápia conta que o tema deste ano será “O Riso de Joyce”, e explica a escolha: “Tomei a expressão do filósofo Jacques Derrida que, num ensaio, ao refletir sobre Finnegans Wake, diz que Joyce está sempre rindo, por meio da multiplicidade de sentidos de seu último romance. Mas a frase também alude ao aspecto cômico da obra de Joyce, sua capacidade de fazer rir. Exploraremos esse lado divertido de várias obras dele por meio de leituras e encenações”.
A agenda é extensa e animada e os atores que fizeram as performances pelas ruas de São Paulo, além de outros convidados, sobem ao palco para leituras de traduções diversas não só de “Ulisses”, mas das várias obras de Joyce, como Retrato do Artista Quando Jovem, Dublinenses e Epifanias. Destaque, também, para a leitura de trechos de Finn’s Hotel, que acaba de chegar às livrarias, por Aurora Bernardini. Haverá ainda apresentação do grupo Irish Dreams, homenagem ao citarista Alberto Marsicano, presença constante no Bloomsday até a sua morte, no ano passado, e apresentação de Arthur Hoverter com sua tradicional gaita de fole.
Recentemente James Joyce entrou em domínio público, o que possibilitou aos leitores o acesso a novas – e talvez mais palatáveis – traduções da complexa obra do irlandês. Marcelo Tápia, desde 1992 à frente do Bloomsday, vê cada vez mais leitores interessados em Joyce e, portanto, uma ampliação do público dos eventos, e comenta a atualidade do escritor: “Sua obra é inesgotável. É absolutamente impressionante o que ele conseguiu alcançar com sua criação: as referências são incontáveis, o alcance de sentido e as possibilidades de leitura são ilimitadas, e permitem não só a reflexão profunda como a diversão”.
Outros Bloomsdays
No Rio, a comemoração começa às 21 h na Escola Letra Freudiana. A professora Bernardina da Sillveira Pinheiro apresenta uma análise da paródia que Joyce fez de Hamlet. Depois haverá leituras e um brinde ao irlandês e aos 450 anos de Shakespeare. Em Florianópolis, o evento organizado por Clélia Mello, Dirce Waltrick do Amarante e Sérgio Medeiros começa às 17 h na Aliança Francesa. Já em Belo Horizonte, a festa está marcada para as 18 h na Casa Una de Cultura, com filmes, leituras e exposição. Em Porto Alegre, à,;s 19h30, no StudioClio, haverá sarau com a banda Irish Fellas e com leituras por Donaldo Schüler. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.