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Biquini Cavadão lança disco e faz show nesta terça-feira em SP

As Voltas Que o Mundo Dá, novo disco de inéditas do Biquini Cavadão, não foi elaborado a partir de um conceito. Para a banda, é sempre ao contrário: com as composições em mãos é que o quarteto começa a buscar um fio condutor para o álbum, a identificar músicas que tenham zonas de convergência. Talvez fosse pelo amadurecimento trazido pelos 32 anos de estrada do grupo, talvez fosse pelos momentos em que os próprios integrantes estivessem passando durante o processo de composição, mas, no fim das contas, muitas das canções trazidas por eles se encontraram na questão da imprevisibilidade da vida e das relações. Daí a ideia do título As Voltas Que o Mundo Dá, que foi tirada da letra de Nossa Diferença de Idade (Say You Love Me), uma das faixas do disco.

“São fatos muito verídicos nossos, não eram histórias baseadas em fatos de outras pessoas. A gente conta muito sobre a nossa história”, diz o vocalista Bruno Gouveia, de 49 anos, que integra a banda com Carlos Coelho (guitarra, violão), Miguel Flores da Cunha (piano) e Álvaro ‘Birita’ (bateria e pandeiro). Na já citada Nossa Diferença de Idade (parceria da banda e Rodrigo Coura), por exemplo, Bruno fala dele e de sua mulher, a cantora Izabella Brant, que tem 13 anos a menos que ele. Os versos trazem situações cotidianas que ilustram esse, digamos, distanciamento etário entre o casal, com direito a licenças poéticas – como no trecho “Enquanto você perguntava aos pais/ De onde é que vinham os bebês/ Eu vivi minha primeira vez”. Bruno brinca: “Também não era tanto (risos). Não fui tão precoce assim”.

“Eu quis escrever alguma coisa que falasse exatamente sobre isso”, diz o vocalista. “Ela (Izabella) conta para mim que ia a shows, adorava a banda, mas não era aquela fã de ir a todos os shows. A gente se conheceu no meio. E, quatro anos depois, começamos a namorar. Escrevi a letra para dar para ela de presente. É interessante como a música repercute entre os fãs, porque também o contrário existe: as mulheres mais velhas com caras mais novos.”

Também embaladas pelo pop rock bem característico da banda, outras músicas do disco seguem essa mesma toada romântica – e biográfica -, como Soltos Pelo Ar (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso), Para Sempre, Seu Maior Amor (Biquini Cavadão e Simon Spire), Como Te Conheci (Biquini Cavadão, Izabella Brant e Theo Lustosa). Há também os momentos de crise conjugal (Arco-Íris), de reencontros (Beijar Sem Fim) e de desencontros (Você Marcou).

Com jeito de hit, Um Rio Sempre Beija o Mar (Biquini Cavadão e Dudy Cardoso) – música de trabalho da banda – faz uma analogia aos caminhos tortos pelos quais se percorre para chegar ao almejado objetivo. “A canção surgiu de uma ideia do Coelho. Quando ele estava fazendo um voo pela Amazônia, viu os rios completamente sinuosos. Apesar disso tudo, o rio sempre encontra o mar, e aí veio a ideia de fazer essa analogia, porque a vida da gente também é assim: temos nossos objetivos embora, muitas vezes, encontramos a correnteza atrapalhando. Ela bateu no coração da gente direto.”

Pode parecer curioso as músicas virem assinadas em nome da banda, e não do compositor. Bruno conta que essa sempre foi a filosofia deles, o que, na sua opinião, é um dos motivos da longevidade do grupo. “Temos um acordo, desde o começo, que todo mundo vai participar mesmo que só um de nós faça (a composição). A música só sai desse jeito porque nós todos estamos envolvidos nesse processo. Se eu estivesse gravando fora do Biquini Cavadão, a música não sairia desse jeito”, explica. “Tivemos nossos momentos de grande exposição e também difíceis. E, mesmo nos momentos mais duros da carreira, a gente comemorava o fato de estarmos recebendo direitos autorais, e estava todo mundo ganhando junto.” Bruno afirma que viu bandas acabarem por briga de direito autoral. “Isso, às vezes, atrapalha a carreira de uma banda. A gente não: todos nós dividimos tudo. No fim, foi uma decisão bem tomada.”

Letra atual

A produção de As Voltas Que o Mundo Dá é do renomado Liminha, ex-Mutantes e que já trabalhou como produtor com uma gama ampla de artistas, como Paralamas, Titãs, Lulu Santos, entre tantos outros. Também exímio contrabaixista, Liminha assumiu o instrumento em todas as canções do disco – a banda deixou de ter baixista no fim de 2000, após a saída de Sheik. Era um antigo desejo da banda ter Liminha como produtor. “A gente se desencontrou por 32 anos. A gente queria fazer antes, mas ou ele ou a gente não podia”, lembra Bruno. “Finalizamos a turnê de 30 anos e falamos: que tal começarmos um novo ciclo com coisas que a gente nunca fez? Vamos fazer com o Liminha? Vamos ligar para ele e ver se dá. Deu certo.”

Desde março, a banda está em turnê com o novo trabalho e volta a São Paulo com o show, que apresenta nesta terça, 20, no Teatro Bradesco. O repertório combina as novas canções com hits como Timidez, Tédio, Vento Ventania. Lançado no álbum Descivilização, de 1991, Zé Ninguém, outro sucesso da banda, mexe com o público nas apresentações, com sua letra ainda atual. “Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém/ Aqui embaixo, as leis são diferentes/ Quem foi que disse que os homens nascem iguais?/ Quem foi que disse que dinheiro não traz felicidade?/ Se tudo aqui acaba em samba?/ No país da corda bamba, querem me derrubar!”, traz um trecho. “Acho um barato que ela não é uma música política, é uma música social, que foi usada para tirar o (Fernando) Collor e foi usada nos protestos contra a Dilma”, diz Bruno. “As pessoas cantam aquilo com o coração apertado ou com raiva nos olhos. Elas extravasam pelo menos.”

O vocalista, aliás, garante que a banda não tem problemas em revisitar sempre seus grandes sucessos nos shows. “A gente tem orgulho de cada uma dessas músicas. É um prazer enorme tocá-las. A gente sabe que cada uma tem uma história na vida das pessoas, cada uma delas é uma trilha sonora para a vida das pessoas”, diz. “Penso: caramba, com tantas músicas no mundo, essa pessoa eleger uma canção minha para fazer parte da vida dela é uma honra muito grande.”

BIQUINI CAVADÃO

Teatro Bradesco. Rua Palestra Itália, 500, Perdizes, telefone

3670-4100. 3ª (20), às 21h30.

R$ 40/ R$ 160

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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