“Fé e ciência não vivem juntos” – o cartaz, espalhado pela cidade de Paraty, parece uma saudação de boas vindas ao biólogo e escritor britânico Richard Dawkins, um dos darwinistas mais influentes em atividade no mundo e autor de “Deus, um Delírio”. Ontem, ele participou da última mesa do dia, na 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. “Ainda não vi esse cartaz mas seus dizeres são verdadeiros”, disse ele, ontem de manhã, em entrevista coletiva. “A maioria das pessoas é ignorante em relação à ciência e prefere acreditar em Deus.”
Ateu confesso e praticante, a ponto de participar ativamente de campanhas como a que cobriu ônibus de Nova York e Londres com a frase “Deus provavelmente não existe”, Dawkins fomenta a polêmica com frases diretas. Para ele, muitos dos problemas modernos estão diretamente relacionados com a religião – o fundamentalismo, por exemplo, justificaria o ataque terrorista a Nova York, em 11 de setembro de 2001. “A religião não oferece coisas boas, obrigando as pessoas a viverem entre a escolha do bem ou do mal. Também não oferece uma explicação convincente para a evolução do homem. Acho que acreditar em algo que não tenha evidências é muito perigoso.”
Vindo de uma passeio pelo Pantanal, região mato-grossense que o fascinou, o cientista não encontrou naquele exemplo de natureza um toque divino. “Na verdade, para mim foi uma grande experiência estética.” Dawkins preocupa-se com a proteção natural recebida pelas religiões, o que as tornam inatacáveis para grande parte das pessoas. “Acredito que a maioria das pessoas tenha uma predisposição para a crença religiosa e até tenho amigos com muita fé que são ótimas pessoas. Mas isso não pode ser levado ao extremo, pois a fé religiosa pode levar, como já vimos várias vezes, a guerras.”
Apesar do tom crítico, Dawkins conta que muitas de suas obras, como “Deus, um Delírio”, deveriam, na verdade, divertir o leitor. “Sei que os críticos o consideraram agressivo, arrogante, mas é um livro engraçado.” A ciência, aliás, não pode se fechar em si mesma, acredita o britânico, que a considera, por exemplo, o veículo ideal também para a poesia. “Carl Sagan foi um dos que perceberam isso ao olhar para as estrelas.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.