Dia desses, Ronnie Von estava irrequieto dentro de uma livraria. Pelas prateleiras, ele buscava a própria biografia. A atendente, sem entender aquela cena meio nonsense, deu risada: “Como você vai se autoprocurar?”. Ronnie descobriu ali que a biografia, a sua, Ronnie Von – O Príncipe Que Podia ser Rei, escrita pelos jornalistas Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel, ainda estava em pré-venda. O lançamento ocorre na sexta-feira, 01, às 19 horas, quando serão realizados bate-papo e pocket show na Fnac Paulista.
Explica-se a ansiedade de Ronnie. Mesmo colaborando com seus biógrafos, dando-lhes horas de entrevistas, o apresentador – e eterno ‘Príncipe’, apelido cunhado pela amiga Hebe -, não teve acesso prévio ao livro nem fez qualquer tipo de intervenção no texto. Vai lê-lo pela primeira vez agora. Ronnie é a favor das biografias não autorizadas. Mas e se os biógrafos não fossem conhecidos dele, como é o caso de Guerreiro e Pimentel? “Se a pessoa me procurasse, eu diria: ‘não distorça a verdade, não invente histórias”, responde Ronnie, aos 70 anos, recém-completados.
A iniciativa de elaborar essa biografia partiu dos próprios jornalistas. Ronnie já havia sido personagem central do documentário Quando Éramos Príncipes, do jornalista Ricardo Alexandre, dirigido pelo cineasta Caco Souza. Outra abordagem, outra linguagem. “O documentário é complementar ao livro”, avalia Guerreiro. “É muito difícil escrever uma biografia, por isso optamos pelo o que é essencial na vida dele.”
Foi um ano e meio de dedicação ao projeto. E cerca de 200 horas de entrevistas contabilizadas – a metade desse tempo, só com biografado. Ronnie Von nasceu Ronaldo Nogueira em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 17 de julho de 1944, em pleno período de Segunda Guerra Mundial. Só mais tarde, na vida adulta, ele incorporaria outros sobrenomes, emprestados da segunda mulher do avô, por indicação de empresários: Ronaldo Lindenberg Von Schilgen Cintra Nogueira.
Ainda criança, o pequeno Ronnie gostava de decorar nomes dos ossos do corpo humano. Nessa mesma época, em 1947, nascia seu irmão Tony. Em Copacabana, os dois filhos de Noly e José Maria Nogueira cresceram numa família harmoniosa e abastada. Ronnie não demorou muito para se apaixonar por aviões. Mais tarde, começou a pilotar e, aos 17 anos, realizou o sonho de comandar um avião sozinho.
Na Escola de Cadetes, durante uma festa, experimentou a sensação de subir ao palco, por insistência de um colega, para cantar Runaway. Gostou, mas deixou a história de lado. A aviação era a carreira que queria seguir, mas teve de deixar a academia para assumir sua posição de herdeiro da família e foi cursar economia.
Na música, foi por intermédio da namorada Aretuza (que viria a ser sua primeira mulher e mãe de dois de seus filhos) que conheceu os Beatles, após ela arrastar Ronnie para uma sessão do filme A Hard Day’s Night. Fascinado com que viu – e ouviu -, ele passou a encomendar discos da banda para o pai, que, todo mês, viajava para Inglaterra.
E o pai acabou por ajudá-lo ainda quando compunha Meu Bem, versão de Girl, dos Beatles. “Não é importante que você faça uma tradução literal, mas que você use o ritmo das palavras junto à melodia”, aconselhou o pai. Ronnie fez a versão a pedido do então diretor artístico da gravadora Polydor, João Araújo, que o viu no palco – novamente por insistência de amigos -, cantando You’ve Got to Hide Your Love Away, também dos Beatles. João propôs um teste em estúdio e que ele apresentasse duas músicas, uma em inglês e outra em português.
Ali foi o início de tudo. Já casado com Aretuza, Ronnie foi contra a vontade da
família para investir na música. Foi morar em São Paulo, mas o desentendimento com os pais durou pouco. Depois dessa primeira contextualização da vida de Ronnie, O Príncipe Que Podia ser Rei segue apontando os altos e baixos de sua trajetória musical. Fala da rivalidade de ‘nobres’ instaurada nos bas,tidores da TV Record, onde ele e Roberto Carlos tinham seus respectivos programas, na década de 60.
“Segundo conta quem estava no estúdio, o Rei teria colocado uma foto do Príncipe na sua frente e cantado, com a ajuda dos pulmões e do fígado, a música ‘querem acabar comigo/isso eu não vou deixar”, diz o prólogo do livro. Ronnie conta: “Certamente, o Roberto se deixou levar pelos empresários. Na época, tentei falar muitas vezes com ele, mas não teve como. Hoje, a gente brinca com essa história”.
A biografia reforça ainda a proximidade de Ronnie com a turma da Tropicália, um movimento no qual se arrepende não ter mergulhado de cabeça. “Estava muito envolvido com esse pessoal. Era o meu caminho.”
Os biógrafos contam que, a certa altura, Ronnie lhes confidenciou que aquelas entrevistas estavam funcionando com sessões de terapia. Mas tocar em assuntos pessoais eram mais difícil para ele, como a separação de Aretuza; o relacionamento conturbado com Anna Luiza, do qual ele saiu dilacerado – para que ele retomasse os eixos da vida, Aretuza abriu mão da guarda dos dois filhos para o ex-marido; e o casamento com Bia Seidl (que não quis dar depoimento para a biografia). “Para Ronnie, falar disso dói muito, mas era importante para a história”, diz Pimentel. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.