Escolhidas no acervo de mais de 200 anos da Biblioteca Nacional, 40 mapas em exposição no terceiro andar da instituição, no centro do Rio, contam a evolução da cartografia do Ocidente. Em especial, a história da representação do território brasileiro do século 15 até a consolidação final de suas fronteiras, no século 20. Alguns deles foram trazidos nos navios da corte portuguesa que aqui chegaram em 1808, e que deram origem à Real Biblioteca, de D. João VI e família, embrião da Biblioteca Nacional.
A mostra Historica Cartographica Brasilis in Biblioteca Nacional tem como marco inicial a antiguidade clássica, passa pela Idade Média e chega ao Renascimento. Por volta do século 15, a cartografia teve um boom, motivado pela invenção da imprensa pelo gráfico alemão Johannes Gutenberg, das navegações transatlânticas e da tradução para o latim de Geografia, obra que o grego Ptolomeu redigiu no século 1 e que impulsionou o desenvolvimento cartográfico.
O Brasil só irá aparecer no mapa no século 16, com as descobertas de Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio e Pedro Álvares Cabral. A Terra de Santa Cruz por vezes é chamada de Terra dos Canibais – em mapa de 1574, é possível, por exemplo, ver a representação de índios assando uma perna humana, em meio a sinais pictóricos que remetem à vegetação e ao relevo brasileiros.
Na mostra, a primeira representação da “Terra sanctae crucis” é de 1508, do explorador holandês Johannes Ruysch. Os contornos surgem mais certeiros em 1534, no planisfério do cartógrafo espanhol Nuno Garcia de Toreno, que estende seu traçado até o Rio da Prata.
No mapa de 1587 do holandês Abraham Ortelius, visualiza-se o Rio Amazonas. No século 17, a terra passa a ser chamada de Brasil nos mapas, e é possível ver nomeadas as capitanias, do Norte ao Sul. As demarcações no Norte do País também estão em destaque na mostra.
Os contornos da colônia portuguesa vão ficando mais precisos conforme se intensificam as viagens dos europeus para cá. Holandeses, franceses, ingleses, alemães e espanhóis se dedicaram aos mapas e à sua divulgação, que visava a guiar os que se aventurassem por aqui. Os portugueses também produziam mapas – mas preferiam não fazer alarde sobre as terras ultramarinas, para não aguçar a cobiça alheia pelas alardeadas riquezas.
As técnicas usadas vão da gravação em metal, pedra e madeira à impressão, no século 20. Há mapas artísticos, como o desenhado e gravado pelo cartógrafo britânico John Rapkin em 1851, que inclui bucólicas vistas do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Montevidéu e outras localidades da América do Sul.
A definição do território nacional, a defesa do litoral de investidas invasoras, os tratados de Tordesilhas (1494) e Madri (1750), que repartiram as terras sul-americanas entre Portugal e Espanha, as missões jesuíticas, a expansão rumo ao interior e, em 1903, a incorporação do Acre, todos os passos decisivos para a consolidação fronteiriça estão representados na exposição.
“A representação foi se refinando com o passar do tempo. A ideia é mostrar a evolução da presença do Brasil nos mapas. A partir do momento em que os viajantes descobriam novos dados, eles eram enriquecidos”, explica a chefe da área de cartografia da Biblioteca, Maria Dulce de Faria, que há 33 anos trabalha com esse material na casa.
As cartas, em sua maior parte, estão digitalizadas e podem ser encontradas no arquivo digital da Biblioteca Nacional pelo site www.bn.br. Na sede, só podem ser manuseadas no dia a dia por pesquisadores.
O conjunto reunido nunca havia sido exibido. A exposição foi pensada para coincidir com o Congresso Internacional de Cartografia, que acontece em agosto no Rio de Janeiro, e é atraente não só a cartógrafos, geógrafos, arquitetos e militares, mas a estudantes e interessados em história.
Assim como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o Arquivo Histórico do Exército e o Itamaraty, a Biblioteca Nacional é instituição referência em cartografia no País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.