O maior desafio para os organizadores da exposição A Alma do Mundo – Leonardo 500 anos, inaugurada nesta quinta-feira, 24, na Biblioteca Nacional do Rio, era apresentar um novo olhar sobre sua obra. O matemático, cientista, inventor, pintor, escultor e arquiteto italiano foi uma das figuras mais importantes do Renascimento – e uma das mais estudadas.

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“Era um desafio abordar da Vinci de uma forma nova, problematizar sua obra, lançar um olhar diferenciado sobre ela”, constatou a presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Helena Severo. Ela se referia às diversas exposições e homenagens que celebram, ao redor do mundo, os cinco séculos da morte do artista.

Um dos maiores destaques da exposição vem do acervo de obras raras da Biblioteca Nacional. Foi recuperada especialmente pelo Laboratório de Conservação e Restauração. Trata-se do livro Divina Proportione, de Luca Pacioli. Tem 60 ilustrações de sólidos platônicos feitas por Leonardo da Vinci, obra que é a base da teoria da tridimensionalidade. Sua recuperação tem uma história curiosa.

“A obra foi identificada junto a outras que estavam em um estado lastimável, à espera de uma possibilidade de restauro”, contou a chefe do setor de restauração, Ana Virgínia Pinheiro. “Uma estagiária de design me chamou e disse: ‘Não estou acreditando que a gente achou um Leonardo’. A obra foi restaurada, encadernada, microfilmada e digitalizada.”

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Ao todo, 70 obras raras da Biblioteca Nacional estão na mostra. São gravuras, desenhos e livros. Todos vieram para o Brasil com d. João VI, em 1808, como parte da Biblioteca Real.

Aberta no mesmo dia da exposição montada no Museu do Louvre, em Paris, a mostra brasileira optou por trazer uma leitura contemporânea dos trabalhos de da Vinci.

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“A ideia era fugir do maquinário, que é a moeda corrente e, na verdade, era secundário para Leonardo”, afirmou o escritor Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e curador da mostra. “O essencial em Leonardo é a sua visão poética do mundo, seu olhar sempre voltado para o futuro. O gênio de da Vinci não se restringe aos maquinismos que projetou, mas a um método plástico e rigoroso: a poética do conhecimento radial, que ultrapassa escafandros e máquinas voadoras, segundo uma leitura feliz, que não distingue arte e ciência como distantes comarcas.”

Dentro desse espírito, a exposição apresenta um vídeo produzido pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Nele, o rosto de Mona Lisa se move lentamente em movimentos baseados nos princípios matemáticos de fluxos, tema de estudos de da Vinci.

O Instituto Fractarte, de São Paulo, expõe dois vídeos especialmente produzidos para a mostra. Eles revelam brilhantes explosões de fractais, resultado de um cálculo de mais de dez trilhões de sinais.

Do Museu da Ciência e da Vida da Universidade Federal do Espírito Santo vêm os fósseis plastinados (técnica de preservação com silicone). Colocam em evidência os estudos de anatomia de da Vinci e chamam a atenção para a relação da arte com a ciência.

A mostra apresenta ainda obras de artistas plásticos contemporâneos, como Israel Pedrosa, Valtércio Caldas e Ana Maria Maiolino. De alguma forma, elas dialogam como os trabalhos do renascentista – 500 anos depois.