A abertura da biblioteca Brasiliana de Guita e José Mindlin, sábado à tarde, na USP, em São Paulo, reuniu representantes da intelligentsia de São Paulo, do professor emérito da USP Antonio Candido ao secretário da Cultura do Estado, Marcelo Araújo, passando pela ministra da Cultura Marta Suplicy e diretores da principais editoras paulistas. Mais de 500 pessoas lotaram o auditório da biblioteca e outro tanto acompanhou os discursos do lado de fora, ansiosos pela abertura da Brasiliana. Justificável. Há mais de 30 anos, o empresário José Mindlin e sua mulher Guita tiveram a ideia de tornar público seu acervo. Finalmente, com a doação da biblioteca do casal a USP, em 2006, o prédio que foi desenhado e redesenhado pela dupla de arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb abriu suas portas para o público com duas grandes exposições – uma permanente, sobre a vida do casal Mindlin e sua luta para construir e preservar a biblioteca, e outra que reúne os 100 títulos mais importantes dentro de cada segmento da Brasiliana.

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O imponente prédio, de linhas simples, bauhausianas, ocupa 21 mil metros quadrados na Cidade Universitária. Além de funcional, tem o mérito de evocar a figura discreta do bibliófilo em todos os detalhes. Nenhum excesso, mobiliário elegante de Sérgio Rodrigues, Zalsupin, Carlos Motta e Claudia Moreira Salles. Acessibilidade arquitetônica é outro aspecto conjugado com a determinação do diretor Pedro Puntoni de tornar a Brasiliana um espaço aberto para circulação de estudantes e o público em geral, que em breve vai encontrar junto à biblioteca o valioso acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) – entre 450 mil documentos, 180 mil livros e 8 mil objetos, a instituição guarda ainda a coleção Mário de Andrade, também representado com originais na Brasiliana de Mindlin.

Com 32 mil títulos correspondentes a 60 mil volumes, a Brasiliana foi disputada por universidades estrangeiras e as razões são muitas, especialmente o valor histórico dos documentos colecionados por Mindlin por mais de 80 anos. Puntoni cita, ao acaso, a primeira edição de “Os Lusíadas”, a revisão de “Grande Sertão: Veredas” pelo punho de Guimarães Rosa e o manuscritos originais corrigidos de “Vidas Secas” (cujo título original, riscado por Graciliano Ramos, era “O Mundo Coberto de Pennas”). A digitalização desse acervo caminha a passos largos: já são 3.600 títulos disponíveis online e mais estão a caminho com a parceria de instituições como a Biblioteca Nacional. Galeno Amorim, presidente da fundação que cuida da instituição, garantiu à reportagem que a parceria com a USP vai continuar e, a exemplo da Brasiliana, espera ver a nova sede de sua biblioteca em pé. A construção do novo prédio começa em agosto, no cais do Rio. “Nós também temos nossas raridades, que vão da carta da abertura dos portos no Brasil aos mapas originais das ilhas Malvinas, que os argentinos adorariam ter em mãos.”

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse que o processo de digitalização, apoiado pelo Minc, é moroso por esbarrar na questão dos direitos autorais. Burocracia no Brasil ainda é um problema. Ela reconhece que ainda temos uma legislação obsoleta que dificulta até doações – o casal Mindlin enfrentou a Receita Federal, que queria cobrar uma fortuna de impostos para a doação da Brasiliana.

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Mas, como o lema de José Mindlin era “não faço nada sem alegria” (seu ex libris inspirado em Montaigne), o bibliófilo, morto em 2010, aos 95 anos, ficaria certamente alegre com o resultado de sua luta para instalar sua Brasiliana na USP. Lá estão obras originais dos viajantes estrangeiros (Hans Staden, Debret), que podem ser vistas numa exposição temporária. Na permanente, a voz do próprio Mindlin é ouvida lendo trechos de “Grande Sertão: Veredas”. Quem não esteve presente à inauguração, pode, a partir desta segunda-feira (25), visitar a Brasiliana, de segunda a sexta, das 13 às 17 horas. Mais de 30 funcionários estarão trabalhando nessa que é, desde já, a biblioteca de referência de nossa história. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.