Em cena, Bibi Ferreira, que morreu nesta quarta-feira, 13, aos 96 anos, exibia um perfil conhecido: os óculos escuros, braços levantados, físico ligeiramente atarracado, a voz característica. Mas, se a artista Bibi foi muito reconhecida, a mulher Abigail era familiar para poucos amigos fiéis, que conviveram com ela e sabiam de suas outras qualidades e manias.
Abigail era uma mulher boemia, que preferia a noite: geralmente acordava por volta das 15h, quando tomava um simples desjejum: café com leite, pão com manteiga. Não gostava de chocolate, mas isso não significava que tinha um apetite controlado. Pelo contrário – Bibi adorava comer feijoada de madrugada, quando não um suculento prato de coxinhas.
Suas preferências alimentícias, aliás, fariam qualquer nutricionista corar: Bibi adorava fast-food, era frequentadora assídua de lanchonetes como McDonald’s (sua preferida), onde se regalava com uma de suas bebidas preferidas, Coca-Cola. Mas havia também a Bibi mais suave, aquela que gostava de tomar chá nos finais de tarde, principalmente no shopping JK – ou, quando não era possível, no hall do hotel onde estivesse hospedada. Tudo era motivo para fazer o que mais gostava de fazer: conversar durante horas.
Bibi Ferreira era uma mulher pouco afeita a exercícios físicos. Sua preguiça, aliás, vinha da infância, quando era obrigada pela mãe a se movimentar. Já adulta e independente, gostava de ficar acomodada no sofá de sua casa, onde assistia durante horas e com imenso prazer a antigos programas de balé que tinha gravado em VHS ou DVD. Desculpava-se dizendo ter uma coluna encrencada, o que limitava seus movimentos. Em parte, era verdade – Bibi só se sentava em cadeiras ou poltronas que fossem previamente preparadas com almofadas que a deixassem confortável.
Como não dirigia, era sempre conduzida e, nesses momentos, não gostava de ir no banco de trás dos carros. “Isso é para esposas”, dizia, acomodando-se no banco da frente, onde, aliás, podia se apoiar na alça localizada acima do vidro do banco de passageiro, o popularmente conhecido como ‘pqp’, como ela adorava dizer.
Outra mania de Bibi era não gostar de ser atendida por médicas – preferia sempre profissionais masculinos que, por alguma razão, julgava de mais confiança. Mas tinha muitas amigas queridas, que a acompanharam ao longo de sua carreira. Maria Bethânia, por exemplo, a convidava para seus shows e depois pedia conselhos sobre direção, iluminação, cenário.
O pai, Procópio Ferreira, era uma referência constante, em todas suas conversas e o fato de honrar seu nome era motivo de orgulho para Bibi. Quando finalmente se apresentou no Lincoln Center, em Nova York, em comemoração aos seus 90 anos, a felicidade era pelo ponto alto atingido pela filha de Procópio. “Estou na América”, saltitou ela, tão logo desembarcou no aeroporto.