Bianca Castanho dribla ansiedade

Bianca Castanho se orgulha de afirmar que saber apenas as falas de suas personagens nunca foi suficiente para ela. E jura que sempre se aprofunda no estudo do texto das novelas de que participa. Diante da surpresa de ser convidada para viver sua primeira protagonista, a Clara de Canavial de Paixões, este foi o primeiro argumento que Bianca usou para tentar “driblar” a própria ansiedade. “Afinal, não muda muita coisa. Tenho mais cenas, mais falas, mas nunca me restringi a estudar só o que me dizia respeito”, justifica, com um ar maroto de quem se esforça para acreditar no próprio raciocínio.

Na verdade, Bianca tremeu na base quando “caiu a ficha” de que faria sua primeira protagonista com apenas quatro anos de carreira. Mas o receio em nenhum momento superou a empolgação de viver a experiência profissional que considera mais importante até agora. “É uma evolução, uma etapa que estou conquistando”, comemora, orgulhosa. Com semblante tranqüilo, a atriz classifica sua trajetória como “gradual e progressiva”. E destaca o fato de ter interpretado personagens que cresceram ao longo das tramas, como a Florinda de Terra Nostra, sua estréia na tevê, e a Ciça de O Beijo do Vampiro. “Acho que meus papéis foram crescendo junto comigo e com as histórias, o que é ótimo”, orgulha-se.

No SBT, o intenso ritmo de gravações e o fato de já conhecer a trajetória da personagem até o final também são duas novidades para Bianca. Desde que começou a gravar, no início de setembro, a atriz encara cerca de 15 horas de trabalho por dia de segunda a sábado. Mas não tem do que reclamar. “Se dissesse que não estou cansada, estaria mentindo. Mas é um cansaço muito gratificante”, assegura. O fato de saber o que vai acontecer a Clara do início ao final da novela facilita seu trabalho – “dá para preparar melhor a personagem” -, mas a distância entre a gravação das cenas e a exibição delas na tevê atrapalha um processo que sempre ajudou Bianca a avaliar sua atuação. “Sou do tipo de atriz que acompanha a novela toda. É bom ver o que estou errando para tentar corrigir. Aqui, como a frente de capítulos é muito grande, fico sem essa resposta”, lamenta.

Antes de começar a gravar como Clara, Bianca não fez muita coisa além de estudar o texto da trama. Tarefa, aliás, que não foi das mais difíceis. “A história me conquistou de cara. Não conseguia parar de ler”, jura a atriz, apostando no sucesso da novela. Para “entrar no clima” do romance “à la Romeu e Julieta”, no entanto, ela alugou diversos vídeos açucarados, além de passar a dedicar especial atenção à adaptação mexicana que o SBT exibia na época, Jamais Te Esquecerei. “A tevê e o cinema sempre ajudam, porque é um estilo que a gente vai assimilando”, ensina.

Mas Bianca acha que Clara é bem diferente das heroínas típicas das tramas mexicanas exibidas pelo SBT. A personagem, como as outras, é uma autêntica mocinha romântica, daquelas que derramam rios de lágrimas e passam toda a história “se desencontrando” do grande amor da sua vida, no caso, o Paulo vivido por Gustavo Haddad, até chegar ao “…e foram felizes para sempre”. Mas, por outro lado, a atriz afirma que Clara é uma pessoa forte, que reage às armadilhas que o destino e as vilãs da trama lhe reservam. “Ela encara os problemas de frente, é batalhadora e não fica acomodada no sofrimento, com as pessoas sentindo peninha dela”, defende.

“A cada tombo que a Clara leva, tento fazer com que ela levante com uma força maior”, explica. Mas é justamente isso o que mais a atrai na personagem, principalmente pela associação que ela vislumbra com a realidade do País. “O povo brasileiro é muito sofrido. Acho que é uma inspiração legal encarnar uma personagem que tira força do sofrimento”, imagina.

Rumos incertos

Quando recebeu o convite para interpretar Clara, Bianca Castanho estava decidida a fazer teatro. Ela e um grupo de atores, liderados por André Paes Leme, estavam fazendo leituras semanais de textos de peças, à procura de um espetáculo para montar. A vontade de voltar aos palcos é enorme desde que, em sua estréia profissional, ela conquistou o Prêmio Qualidade Brasil de Atriz Revelação pela atuação como Cordélia, de Rei Lear. A montagem de 2000, protagonizada por Raul Cortez, é até hoje um dos momentos mais marcantes da carreira de Bianca. “Não poderia haver escola melhor: uma peça de Shakespeare, com três horas de duração, ao lado do Raul Cortez”, enumera, eufórica.

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