Beyoncé Knowles foi a grande vencedora do Grammy com cinco troféus e deslumbrou a platéia com duas performances na premiação que aconteceu na noite deste domingo no Staples Center em Los Angeles.
O cantor romântico de rythm & blues, Luther Vandross, que se recupera de um sério derrame, conquistou quatro troféus. O campeão de vendagem, grande sucesso americano do momento, Outkast ganhou o prêmio máximo de álbum do ano pelo CD duplo Speakerboxxx/The love below, também vencedor do Grammy de melhor disco de rap. Os brasileiros não deram sorte. Nenhum dos três concorrentes – Caetano Veloso, Luciana de Souza e Grupo de Capoeira Angola Pelourinho – ganhou em suas categorias. Os Beatles foram premiados pelos 40 anos de primeiro show nos EUA e o cantor inglês Sting foi homenageado como a Personalidade do Ano pelo braço beneficente da fundação do Grammy, a MusiCares, que ajuda músicos necessitados. Ele foi escolhido por sua atuação a favor de causas humanitárias e ecológicas.
O melhor da festa foram os números musicais dos diversos convidados que cantaram composições de Sting – carreira solo e Police. Entre eles, o francês Charles Aznavour, que cantou acompanhado pelo pianista Herbie Hancock (Moon over Bourbon Street), o grupo de rap Black Eyed Peas (Walking on the moon), os veteranos Elton John e Tony Bennett (Mad about you), Kylie Minogue (Every breath you take), Elvis Costello (Every little thing she does is magic), Wynona Judd (If I ever lose my faith in you), Mary J. Blige (Roxanne).
O outro momento esperado foi a homenagem aos Beatles, que há 40 anos, em 9 de fevereiro, fizeram a primeira aparição em televisão nos EUA, no Ed Sullivan Show, e que foi assistida por 70 milhões de pessoas, detonando a Beatlemania na América. Por isso, a banda ganhou um prêmio especial e subiram ao palco Olivia Harrison, viúva de George Harrison, e Yoko Ono, viúva de John Lennon. Os Beatles sobreviventes, Ringo Starr e Paul McCartney, mandaram mensagens gravadas. “Foi há 40 anos, quem diria, e ainda estamos aqui. Paz e amor para vocês,” disse Ringo, enquanto Paul agradecia em nome do quarteto. Yoko deu uma psicografada no falecido, citando palavras “que ele diria se estivesse aqui”: “Ele está muito feliz que os esforços deles tenham sido tão compreendidos e falaria ‘Come together’, ‘Give peace a chance’, ‘Love is all you need?”. disse ela, emocionada, citando músicas de John.
A maior surpresa da noite veio na escolha do disco do ano, aquele ainda que americanos chamam de “singles”: o grupo inglês Coldplay ganhou por sua canção Clocks, derrotando os demais indicados de rap e r&b, que dominam a música popular americana. Beyoncé Knowles e Outkast praticaram seus shows agitados de sempre e levantaram o público. Velhos freqüentadores do Grammy também ganharam, casos de Metallica, Foofighters, Tony Bennet, Eminem e James Taylor, ganharam seus prêmios como de praxe.
Os três concorrentes brasileiros ao Grammy perderam em suas categorias, mas o País teve um prêmio de consolação. O álbum Obrigado Brazil, do violoncelista sino-francês Yo Yo Ma venceu na categoria de melhor álbum clássico de crossover. O disco tem repertório brasileiro e conta com músicos como César Camargo Mariano, Rosa Passos, Paulinho Braga, Egberto Gismonti e o Duo Assad.
Na categoria de melhor disco de world music contemporâneo Cesária Evora (CD Voz d’amour) venceu Caetano Veloso que concorria com Live in Bahia. A cantora de jazz radicada nos EUA Luciana Souza (CD North and South) perdeu na categoria de disco vocal de jazz para Diane Reeves, vencedora pelo CD A little moonlight.
Finalmente, os monges tibetanos do monastério de Sherab Ling levaram o Grammy de melhor disco de world music tradicional por Sacred tibetan chant, derrotando o Grupo de Capoeira Angola Pelourinho que concorreu com o CD Capoeira Angola 2 – Brincando na roda.
Veja a lista completa dos vencedores do Grammy
Globo Online
Disco do ano
Álbum do ano
Canção do ano
Revelação
Melhor vocal pop feminino
Melhor vocal pop masculino
Melhor performance pop vocal por dupla ou grupo
Melhor colaboração vocal pop
Melhor performance pop instrumental
Melhor album pop instrumental
Melhor album pop vocal
Melhor disco de dance
Melhor album vocal de pop tradicional
Melhor performance vocal feminina de rock
Melhor performance vocal masculina de rock
Melhor performance vocal de rock por dupla ou grupo
Melhor performance de hard rock
Melhor performance de metal
Melhor performance instrumental de rock
Melhor canção de rock
Melhor álbum de rock
Melhor album de música alternativa
Melhor performance vocal feminina de r&b
Melhor performance masculina vocal de r&b
Melhor performance de r&b por dupla ou grupo
Melhor performance vocal de r&b tradicional
Melhor performance urbana alternative
Melhor canção de r&b
Melhor álbum de r&b
Melhor album contemporâneo de r&b
Melhor performance feminina de rap
Melhor performance masculina solo de rap
Melhor performance de rap por dupla ou grupo
Melhor canção de rap em colaboração
Melhor canção de rap
Melhor album de rap
Melhor álbum de world music tradicional
Melhor album de world music contemporânea
Melhor trilha sonora de compilações
Melhor trilha sonora orquestral
Melhor canção tema de filme
Melhor arranjo instrumental de acompanhamento
Melhor engenharia em album clássico
Melhor performance feminina vocal de country
Melhor performance masculina vocal de country
Melhor performance country vocal por dupla ou grupo
Melhor colaboração vocal country
Melhor performance instrumental country
Melhor canção country
Melhor álbum country
Melhor álbum de bluegrass
Melhor album de new age
Melhor álbum de jazz contemporâneo
Melhor álbum vocal de jazz
Melhor solo instrumental de jazz
Melhor album de jazz instrumental
Melhor album de jazz por orquestra ou big band
Melhor album de jazz latino
Melhor album de gospel rock
Melhor album pop contemporâneo de gospel
Melhor album de gospel country ou bluegrass
Melhor album tradicional de gospel soul
Melhor album contemporâneo de gospel soul
Melhor album de coral de gospel
Melhor album pop latino
Melhor album de rock/alternative latino
Melhor album latino tropical tradicional
Melhor album de salsa/merengue
Melhor álbum mexicano/mexicano-americano
Mehor album tejano
Melhor album de blues tradicional
Melhor álbum contemporâneo de blues
Melhor album de folk tradicional
Melhor album de folk contemporâneo
Melhor album de música native Americana
Melhor album de reggae
Melhor album de polka
Melhor album musical infantil
Melhor album infantil falado
Melhor album falado
Melhor album de comédia
Melhor album de show musical
Melhor composição instrumental
Melhor arranjo instrumental
Melhorcapa e encarte
Melhor caixa ou edição limitada
Melhor texto para album
Melhor album histórico
Melhor engenharia
Produtor do ano
Beautiful (Snoop Dogg Featuring Pharrell & Uncle Charlie Wilson) (S)
Come Close (Common Featuring Mary J. Blige) (T)
Excuse Me Miss (Jay-Z) (S)
Frontin? (The Neptunes Featuring Pharrell Williams & Jay-Z) (S)
Justified (Justin Timberlake) (A)
Luv U Better (LL Cool J Featuring Marc Dorsey) (T)
The Neptunes Present…Clones (The Neptunes Featuring Various Artists) (A)
Rock Your Body (Justin Timberlake) (T)
Melhor remix
Produtor do ano, clássicos
Mendelssohn/Bruch: Violin Concertos (Midori)
Obrigado Brazil (Yo-Yo Ma)
Paris La Belle Époque (Yo-Yo Ma & Kathryn Stott)
Melhor album clássico
Mahler: Symphony No. 3
Pierre Boulez, conductor; Anne Sofie von Otter, mezzo soprano; Christian Gansch, producer (Johannes Prinz & Gerald Wirth; Vienna Boys? Choir & Women?s Chorus of the Vienna Singverein; Vienna Philharmonic)
Melhor performance orquestral
Melhor disco de ópera
Melhor performance por coral
Melhor performance solo instrumental (com orquestra)
Melhor performance solo instrumental (sem orquestra)
Melhor performance de música de câmara
Melhor performance de grupo de camera
Melhor performance vocal clássica
Melhor composição clássica contemporânea
Track from: Argento: Casa Guidi; Capriccio For Clarinet And Orchestra, Etc.
Melhor album clássico de crossover
Melhor video clipe
Melhor documentário musical
Crise apavora Academia de Discos
Em 46 edições de entrega do Grammy, o maior prêmio para a música americana, nunca se viu tantos absurdos, tanta música ruim e tão pouca qualidade como na festa do último domingo. A indústria fonográfica americana vive uma crise sem precedentes, com a falta de criação, excesso de música negra, seja ela romântica ou agressiva, como rap, e também por fatores extra campo, comoa pirataria dos discos e da facilidade do downloading barato de qualquer canção via internet.
A crise se destaca naquilo que os gringos mais gostam de ouvir – e onde mais gastam dinheiro – a música pop. Nesse caso, continua a fórmula antiga de cantora-negra-tipo-gospel-voz-quase-perfeita. A garota da hora com quatro troféus é a Beyoncé Knowles, que segue o ritmo e a coreografia Whitney Houston e/ou Mariah Carey. Manjado, chato e nada criativo. O compositor e cantor Luther Vandross, inativo por causa de um derrame, levou três prêmios graças ao mesmo estilo de música e performance, isto é, meloso e assustadoramente piegas.
A crise explode nas paradas de sucesso quando se nota que um grupo que mais parece uma mistura de circo mambembe com festival de cinema B, o Outkast, é o mais aplaudido da noite. O show deles foi algo assim perto do Armagedon da música mundial: velho oeste americano agregado ao rap com dançarinas de cabaré de terceira. Durante o ano, o povo gostou. E os 1.700 presentes no Staples Center adoraram. Decadência da música americana.
A crise no mercado de discos é tão grande que o presidente da Record Academy pediu a palavra, e, preocupado que está com o mundo baixando músicas por meio da rede mundial, lançou um novo site, www.whatsdownloading.com, com o intuito de doutrinar as pessoas para que elas se conscientizem e evitem de pegar músicas grátis na internet, pois isso lesa todo o mundo (outrora) criativo da música.
Ora, a Academia está preocupada que a pirataria e a internet, que estão acabando com as fortunas astronômicas dos músicos e das gravadoras. Mas eles também se esquecem que o preço dos CDs, 15 dólares em média nos EUA, 25 a 30 reais no Brasil, são abusivos.
A crise é grave mesmo. Nota-se isso, quando os maiores homenageados da noite foram o Sting com seus sucessos – via The Police – de 20 anos atrás, e os Beatles, que pararam de gravar músicas há exatos 25 anos, embora os Fab Four sejam ainda os mais tocados em todas as rádios de FM pelo mundo afora.
Na temporada de entrega de prêmios nos EUA, Golden Globo em janeiro e Oscar no próximo dia 29, pode se perceber que, no caso do Grammy, predomina também o violento lobby dos grupos poderosos, sejam eles gravadoras ou produtoras, que manipulam dados e influenciam o público com suas “músicas de trabalho”, pressionando e subornando rádios, empurrando qualquer modernidade musical, contanto que custe pouco e gere bons lucros.
