“Solta no planeta.” “Free lancer, mas situada.” As autodefinições não bastam para explicar a vitalidade de Betty Faria, prestes a completar 68 anos e ansiosa feito uma menina. Orgulhosa de voltar aos palcos em Shirley Valentine, que estreia hoje, em São Paulo, a atriz fala em frio na barriga com a nova aventura. “Pareço uma adolescente, estou ansiosa. Quero que São Paulo me aprove. Eu tenho até insônia, fico pensando se ficou bom, se vão gostar… Me sinto estreando na carreira de novo.”
Sob a direção do ator Guilherme Leme, Betty estrela o monólogo que retrata uma dona de casa que decide combater o vazio que tomou sua vida com uma viagem à Grécia, que a levará a um redescobrimento de si mesma e de seus sonhos, antes perdidos na rotina e no casamento. Escolha que não foi nada fácil, como ela mesmo admite. “Não queria fazer monólogo. Sou uma pessoa solitária, queria me ver ao lado de colegas. Monólogo é um salto do trapézio sem rede”, diz em tom sério. Mas o sorriso fácil, inevitável, logo volta. “É rezar muito pra dar certo!”
Sua volta ao teatro após 10 anos longe dos palcos também segue longe do drama, como ela já adianta. “É uma peça gostosinha”, diz a atriz. “A coisa básica é tocar o coração das pessoas. Bate no coração e aí vai todo mundo jantar, feliz. É tanto abacaxi nessa vida que ninguém precisa de mais um. Não tem essa de ficar duas horas sentado (e faz cara de sono), numa peça longuíssima.”
Sobre o futuro, ela prefere não conjecturar. “Não é porque vim pro teatro que não vou fazer novela, série, filme depois, hein”, diz ela, que esteve na tevê na novela Duas Caras (2008), de Aguinaldo Silva. Ela não esconde, porém, que a maturidade afunila a escolha de bons papéis, e torna o palco um lugar cada vez mais acolhedor. “É difícil para a mulher saber envelhecer, não é mole não. E é claro que mocinha tem idade de mocinha, papel de coroa tem idade de coroa. Não sou queixosa com a idade, mas as exceções são poucas”, desabafa, e se espelha em musas internacionais.
“Meryl Streep, por exemplo, ainda tem bons papéis. Mas cadê a Shirley MacLaine? Sumiu, não se vê mais na tevê. E a Glenn Close? Foi para o teatro. Até a Sharon Stone se refugiou nos festivais. Cada vez mais atrizes na maturidade vão para o teatro.” Se uma antiga mágoa se desenha, ela joga o cabelo, ri e disfarça. “Mas a maturidade não é só desvantagens, essa coisa de ficar toda caída, que horror. A gente aprende o que faz mal pra gente e evita – e evita trabalhar com quem faz mal pra gente.”