Câncer no pulmão. Ninguém poderia imaginar um início mais trágico a um personagem do que aquele de Walter White, brilhantemente interpretado por Bryan Cranston, na estreia de Breaking Bad, em 2008. Um spin-off do seriado amado por público e crítica como este, criado por Vince Gilligan, não poderia ter início de forma frágil, trepidante. O fracasso seguinte seria inevitável. Mas não foi. A estreia de ‘Better Call Saul’, a história do pilantra advogado que auxilia a dupla de cozinheiros de metanfetamina White e Jesse Pinkman (Aaron Paul), é trágica, pouco cômica (principalmente calcada em um humor sombrio), mas que alavancou uma audiência recorde nos Estados Unidos. Exibido na noite de domingo, 8, pelo canal a cabo AMC, o derivado atraiu 6,9 milhões de pessoas, sendo que 3,4 milhões eram adultos de 18 a 49 anos. Um recorde.

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Merecido? É só uma onda de Breaking Bad? As duas coisas, por que não seria? Apontada como uma das grandes produções para a televisão das últimas duas décadas, a trajetória do professor de química diagnosticado com câncer no pulmão que se tornou o maior chefão da produção de metanfetamina dos Estados Unidos é uma perfeita saga do herói (ou anti-herói, em alguns casos). A superação do personagem principal, e dos principais coadjuvantes, move a trama.

E assim segue a trajetória de Saul Goodman. Se em Breaking Bad, ele já é um macaco velho na arte de defender os indefensáveis, em Better Call Saul, descobrimos o que aconteceu para que ele chegasse a esse ponto. Saul sequer é seu nome. Jimmy McGill, este sim, é o protagonista novamente interpretado por Bob Odenkirk – assombrosamente estupendo, como sempre.

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Embora fosse previsto um pouco mais de humor, a história de Jimmy é das mais tristes. Conhecendo-o dos tempos de Breaking Bad, ou seja, seis anos depois da história que estreou na Netflix nesta segunda-feira, 9, e ganhou um novo episódio nesta terça, 10, o drama carrega os nossos corações para aquele lugar vazio, silencioso demais, quase sufocante. Vemos Jimmy, um advogado de razoável bom coração, certa ganância e ânsia por sucesso, sendo estapeado a cada minuto pela vida. Tapas doloridos demais para qualquer um aguentar, menos para Jimmy.

Ele se mantém na linha o máximo possível, longe Saul que conhecemos. O início do episódio, aliás, que se passa anos depois do fim de Breaking Bad é ainda mais dilacerante – você certamente não esperava ver Saul/Jimmy assim.

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A estreia de Better Call Saul perde em ação e dinamismo, se comparada ao debute de Breaking Bad. Mas a vida se futuro de Jimmy é mais angustiante do que o fim da vida próximo, que era o caso de Walter White. Ele tinha uma chance de chutar o balde e decidir criar metanfetamina. Jimmy não tem o cérebro de White. E, diante dele, o futuro é uma nuvem negra, pouco decifrável.