Rei da Lambada dos anos 80, Beto Barbosa se prepara para uma nova investida. Mesmo perdendo a data redonda do ano passado, quando completou 30 anos de carreira, ele desenha sua homenagem a si mesmo para o ano que vem. Beto vai gravar um DVD acústico, sem metais e com banda mais enxuta do que a que costumava usar. A surpresa maior estará em seu repertório: além de Preta e Adocica, músicas que jogaram sua vendagem na casa dos 12 milhões de LPs, ele vai cantar uma versão de ‘My Way’, imortalizada por Frank Sinatra, e outra de ‘III Survive’, do repertório de Gloria Gaynor. Não para aí. Beto Barbosa quer entoar também, e sem trocadilhos, ‘Desafinado’, o clássico de Tom Jobim e Newton Mendonça, lançada em 1959 no primeiro álbum de João Gilberto, ‘Chega de Saudade’. “Essa é a música mais difícil de cantar de todas”.
Aos 61 anos, Beto Barbosa faz críticas à qualidade poética da música brasileira. “As pessoas não param mais para compor uma letra, uma poesia. Elas estão preferindo, então, buscar o passado”, diz, entendendo assim o fato de os anos 80 estarem em alta. A lambada que ele fazia aparece hoje no universo sertanejo, cantada por duplas caipiras. Questionado se via qualidade poética em músicas suas, como ‘Adocica’, ele diz: “Sim, tinha. A gente ouvia muita coisa boa naquela época. Gil, Caetano, Bethania, Gal, Jorge Ben, Billy Paul, Belchior. Ninguém ouve isso mais. Veja Adocica. Ninguém nem falava essa palavra antes da música. Era adoçar. A partir da música, ela começou a virar texto de várias poesias. E veja a parte “nosso amor é veneno, veneno do bem e do mal”. É uma metáfora! Não é nada complicado, mas perto do que fazem hoje, se tornou um clássico.
O auge de Beto Barbosa, em uma era de muito dinheiro nos cofres das gravadoras, tem um dia marcante. Em menos de 15 horas ele esteve em cantos do Brasil completamente diferentes. Tocou primeiro para um comício político em Ji-Paraná, Rondônia; voou depois para São Paulo para se apresentar na campanha à prefeitura de Romeu Tuma Junior e, logo depois, já estava nos ares para chegar a Fortaleza e cantar para pedir votos a Tasso Jereissati. Eram dias loucos e prósperos. Estradas eram tomadas por comboios de caminhões lotados com LPs de Beto Barbosa que saíam de uma fábrica de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Suas músicas estavam nas novelas da Globo, o estreante ‘Domingão do Faustão’ o queria todos os finais de semana e apenas um de seus shows custava o equivalente hoje a R$ 200 mil – hoje giram em torno de 10% e 20% disso.
Se pudesse voltar no tempo, Beto Barbosa não apareceria tanto na mídia. “Eu deveria ter feito como o Roberto Carlos, que fala apenas uma vez por ano. Ninguém aguenta muito a pessoa que está todo o tempo em evidência”.
Neto de avô libanês por parte de mãe, Beto Barbosa conheceu os dois mundos logo cedo. O avô, próspero nos negócios da borracha e, depois, dos tecidos, acabou deserdando a mãe das benesses que a esperavam assim que soube que ela iria se casar com um taxista. Assim, Beto, mesmo tendo riquezas consanguíneas, foi viver na periferia desassistida de Fortaleza. “Eu sabia a língua do rico. Ali, comecei a aprender a falar a do pobre.” Beto foi à luta. Ao crescer, soube que a mãe tinha os mesmos direitos sobre os bens do avô que seus oito irmãos. Conseguiu então um emprego em uma empresa da família como office boy. De boy virou atendente; de atendente, vendedor; de vendedor, auxiliar de compras. E começou a desenvolver o tal tino para os negócios.
Foi cantando uma música lançada por Fagner no karaokê que acabou sendo descoberto por executivos da gravadora Continental. “Se o seu disco vender 100 mil cópias, ele será lançado em São Paulo. Se não, fica no Nordeste mesmo”. Adocica vendeu 3 milhões.