Aos 61 anos, o coreógrafo Ivaldo Bertazzo é incansável. No palco do Sesc Pinheiros, ensaiando os 17 bailarinos de seu mais recente espetáculo, “Corpo Vivo – Carrossel das Espécies”, ele continua exigente, como sempre foi, ao explicar como quer que eles executem os movimentos criados por ele. “Quero muito mais energia. Estica mais essa perna. Quero ver a força”, pressiona, enquanto o balé se esforça para satisfazer o mestre, que tem mais de 35 anos de carreira e acumula a montagem de 30 espetáculos no currículo.
A coreografia é complicada, exige muito dos músculos dos bailarinos, que rastejam, retraem e esticam o corpo, em movimentos que simulam a maneira de se locomover dos répteis. “A primeira fase do ser humano é réptil, mesmo. É rastejar. Depois engatinhar. Ficar em pé, e aí você vai tentar conquistar a flutuação do pássaro”, resume Bertazzo. Nesse espetáculo, ele faz um paralelo entre os movimentos do corpo humano e a forma de se mexer de répteis, quadrúpedes, peixes, e aves. “O corpo humano tem todos esses movimentos nas suas inscrições genéticas. É lógico que ele não vai conseguir voar, mas tem essas características. O espetáculo brinca com isso”, completa o coreógrafo sobre a montagem, resultado de dois anos de trabalho.
Em 2008, o coreógrafo decidiu colocar no papel todo o conhecimento acumulado ao longo de sua carreira, e escreveu o livro “Corpo Vivo – Reeducação do Movimento”, lançado este mês pela Edições Sesc SP. Didático e com fotos explicativas, o livro é o primeiro de uma série de três, e é um manual para se compreender a evolução dos movimentos humanos. A partir do livro, Bertazzo montou o espetáculo para o palco. Em cena, linguagens da dança e do teatro se misturam para contar a história de um monge, interpretado por Rubens Caribé, que, depois de dedicar a vida ao estudo da filosofia, percebe um descompasso entre seu corpo e sua mente.
Nas angústias e questionamentos do personagem, inquietações que afetam também Bertazzo. “O corpo se deteriora primeiro do que a mente. Como lidar com isso?”, reflete o coreógrafo. “Depois de uma certa idade, você não quer mais ficar um ano parado, sem colocar as ideias em prática, porque não sabe até quando seu corpo vai funcionar”, analisa ele. Para cuidar do corpo, o coreógrafo segue apenas um ritual. Todas as manhãs ele toma banho alternando a temperatura da água entre quente e frio, e escova a própria pele com uma escovinha comum de limpeza. “Com isso, sinto a pele mais firme e a circulação sanguínea fica melhor”, afirma.
Durante o espetáculo, ele faz uma aparição surpresa, munido de uma escovinha, e ensina à plateia – que recebe uma escova igual à dele na entrada – como promover a escovação diária do próprio corpo. Crianças, jovens e velhos caem na gargalhada ao se verem escovando e acariciando as têmporas, a bochecha, o nariz e o pescoço. Para Bertazzo, essa é uma forma de ensinar às pessoas a conhecer e administrar melhor o próprio corpo. “Hoje, os dentes e o cabelo são mais bem cuidados do que o corpo. Esse aprendizado devia começar na escola. No futuro, o grande problema do mundo vai ser lidar com as doenças”, diz. As informações são do Jornal da Tarde.
Corpo Vivo – Carrossel das Espécies – Sesc Pinheiros (R. Paes Leme, 195). Tel. (011) 3095-9400. Qui., sex. e sáb., às 21h.; dom., às 18h. Até domingo (17). De R$ 7,50 a R$ 30. Livre.