Na música Do Jeito que a Vida Quer, o cantor e compositor Benito di Paula diz logo nos primeiros versos que guarda uma mágoa no peito e que, quem o vê sorrir, não sabe da solidão que sente. A canção, de 1976, poderia ser um desabafo real e atual do carioca, que teve sua casa desapropriada recentemente, viu um gradativo desaparecimento da grande mídia e ainda gravou um novo CD, mas que não possui condições para ser lançado.

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Entretanto, Benito não guarda mágoas ou se sente solitário, aparentemente. Além de estar com a vida encaminhada depois de perder sua mansão, o cantor lançou recentemente o clipe da música Teia, composição de seus irmãos Ney e Ana Carolina Vellozo, e que quebra um jejum de 20 anos sem lançar um canção inédita. É o início, segundo ele, de um novo momento em sua carreira, que poderá revitalizar os quase 60 anos de estrada como cantor e compositor.

O último grande lançamento de Benito di Paula foi em 2009, quando gravou o primeiro DVD de sua carreira com releituras de sucessos, como Retalhos de Cetim e Charlie Brown. Nos últimos sete anos, no entanto, o compositor apenas realizou shows esporádicos pelo Brasil e ressurgiu rapidamente na mídia quando o Governo do Estado de São Paulo desapropriou a sua mansão localizada no Morumbi por um valor extremamente abaixo do que era oferecido no mercado.

Agora, décadas depois de realizar seus primeiros shows em boates em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, o carioca, de 74 anos, busca um novo horizonte musical com o lançamento do clipe de uma música inédita.

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A canção Teia, que flerta com um ritmo mais melódico e se mantém levemente distante do samba, como os seus antigos sucessos Se Não For Amor e Vai Ficar na Saudade, apresenta características de suas músicas antigas, mas com uma leve proximidade do atual pagode romântico – estilo que Benito ajudou a influenciar, segundo alguns críticos musicais.

É a tentativa do cantor de Nova Friburgo em dar um novo passo em sua carreira para conseguir se revitalizar, mas sem abandonar as características que o transformaram em um artista original, como a inclusão do piano no samba e as letras com refrões fortes e sentimentais.

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“É uma música que meus irmãos Ney e Ana Carolina Vellozo fizeram e resolvi gravar”, comenta Benito, que lançou seu último CD com inéditas há 20 anos, no álbum Baileiro. “É, basicamente, sobre uma desilusão amorosa. É uma história muito bonita e que espero que faça o sucesso merecido.”

Cortando o barato

O sucesso de sua nova música pode, no entanto, ficar comprometido com um problema que surgiu no caminho de Benito. Teia não foi feita como um projeto único. O compositor também gravou, no ano passado, um álbum com canções inéditas e regravações, contando com a participação da cantora Fernanda Takai e dos grupos Sambô e Trio Virgulino. Apesar de finalizado, o álbum não consegue encontrar meios de ser distribuído pelo País.

“Quando comecei a gravar o disco, não sabia que não ia ter condições de ser distribuído. Os responsáveis estão interessados em lançar, só que não temos recursos para isso. Mas vamos lançar, pode apostar”, comenta Benito, que, durante os anos de 1970, chegou a vender mais álbuns que Roberto Carlos.

A saída para tentar contornar esse problema, por ora, foi lançar Teia no YouTube, para aguçar mais a curiosidade de fãs e gravadoras. E, apesar de ainda manter a esperança no sucesso e no lançamento de seu novo trabalho, ainda não há uma definição à vista.

“Vivemos outra época”, comenta o especialista e professor em Cultura Popular, Fernando Pereira. “Quando Benito fez sucesso, tínhamos os grandes programas de auditório, que eram impulsionadores de vendas de discos. Hoje temos grandes compositores e intérpretes que não têm nenhum espaço”, afirmou.

Extremos

Quando Uday Vellozo – nome verdadeiro de Benito di Paula – estourou com a música Violão Não se Empresta a Ninguém, em 1971, poucas pessoas imaginavam o sucesso que aquele garoto de visual alternativo iria fazer nos anos seguintes. Durante as décadas de 1970 e 1980, emplacou diversos sucessos, como Retalhos de Cetim e Charlie Brown.

O cantor chegou até mesmo a ficar na frente de Roberto Carlos nas listas de LPs mais vendidos. “Benito é de suma importância para MPB”, comenta o especialista em Cultura Popular, Fernando Pereira.

Nos anos 1990, entretanto, tudo começou a mudar. Após uma série de duras críticas da imprensa e uma doença que o afastou dos palcos, Benito sumiu da mídia e, principalmente, da indústria fonográfica. “Me deixaram de lado”, lamenta o cantor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.