Picasso em preto-e-branco. A obra do espanhol Pablo Picasso (1881-1973) é extensa, o artista produziu durante sua trajetória por meio de distintos gêneros, estilos e técnicas. Pintura foi o seu forte, basta dizer que foi o grande nome do cubismo, mas isso seria apenas uma de suas facetas. Porque, em se tratando de técnicas, Picasso também fez escultura cerâmica e mesmo a gravura tem grande peso em sua produção. "A arte de Picasso é para nós, hoje, um exemplo de obra consolidada e não pode ser descrita em termos de um único conjunto de características. Se suas obras não fossem identificadas diretamente com seu nome, se fossem mostradas todas juntas numa grande exposição, seria muito difícil afirmar que pertencem a um único homem", como já definiu o grande historiador americano Meyer Schapiro em seu estudo ‘A Unidade da Arte de Picasso’, lançado no Brasil pela editora Cosac Naify.
Na mostra que será aberta amanhã na Estação das Docas, em Belém, está o Picasso artista gráfico. A exposição reúne 92 obras – litografias, águas-tintas, águas-fortes, pontas-seca – realizadas entre 1905 e o fim de sua carreira, até 1972. "Pablo Picasso: Paixão e Erotismo", que poderá ser vista na cidade paraense até o dia 7 e, depois, seguirá por outras capitais brasileiras fora do eixo Rio-São Paulo (Belo Horizonte, Teresina Goiânia e Curitiba), compreende um conjunto de trabalhos inéditos no País, vindo da coleção particular do italiano Pier Paolo Cimatti. A mostra faz parte do projeto itinerante Circuito Cultural Banco do Brasil.
Como diz o curador Fábio Magalhães, Picasso produziu também gravuras em cores, mas a opção foi apresentar para o público obras em preto-e-branco, uma maneira de conferir alguma espécie de unidade em meio à variedade da obra do artista. Ao longo de sua carreira, Picasso se dedicou a fazer extensas séries – por exemplo, duas delas, grandes e de grande repercussão, são "Minotauromaquia", da década de 1930, exemplar de seu interesse pela mitologia grega, e a realizada a partir dos horrores do bombardeamento da cidade de Guernica (episódio de impacto para o artista, transformou-se em sua célebre tela abrigada no Museu Reina Sofia em Madri). Há alguns exemplares delas, há também gravuras de outra série que vale citar, a do artista e sua modelo, mas a mostra também reúne gravuras de temas isolados (touradas, mitologias, etc.). "Uma característica que predomina em todas as obras é o erótico, longe de ser pornografia. O mundo de Picasso é um mundo de paixão, é o erótico como pulsação de vida. Tanto que no fim, envelhecido, o artista se representa como o touro, como um Minotauro", afirma o curador.
O colecionador Pier Paolo Cimatti, de Milão, é proprietário da editora Torcular, que além de produzir catálogos e livros de arte, também edita gravuras de artistas. Dessa maneira, Cimatti conseguiu reunir uma extensa coleção do gênero. Como conta Magalhães, esse rico acervo se faz, para citar grandes nomes, com a obra gráfica completa do italiano Giorgio Morandi (1890-1964); obras do surrealista Max Ernst (1891-1976); do artista do metafísico Giorgio De Chirico (1888-1978); e, claro, com aproximadamente 180 gravuras de Pablo Picasso. Na seleção trazida para o Brasil, em que predomina a produção realizada no fim da década de 1960, a obra mais antiga é o retrato de Olga Khoklhova, a primeira de sua lista de mulheres.