Atual campeã do carnaval carioca, a Beija-Flor, escola da qual Joãosinho Trinta foi carnavalesco por 16 anos, vai homenageá-lo em 2012 relembrando um marco em sua carreira: o desfile “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, de 1989, com seu Cristo coberto por um plástico preto (proibido de aparecer por conta de uma ação judicial impetrada pela Igreja), e sua antológica ala de mendigos.
A alegoria está sendo refeita e a ala, recomposta, e as duas fecharão o desfile – em 1989, apareceram na abertura, arrebatando o público. O diretor teatral Amir Haddad, que recrutou a ala em 89 a pedido de Joãosinho, foi convocado pela atual comissão de carnaval. Ele quer reproduzir o forte impacto da estátua (que trazia uma faixa com a inscrição “Mesmo proibido, olhai por nós”) e da ala (os componentes-mendigos, em grande parte, atores, chegaram a escalar camarotes e “roubar” salgadinhos, “famintos”).
“Vamos recuperar esse momento, que não é só do carnaval, mas do teatro brasileiro”, disse Haddad, hoje, um dia depois de acertar detalhes no barracão. “Vou chamar participantes originais e mais uma vez faremos nossas próprias roupas. Estou emocionado desde o momento em que fui chamado, logo depois da morte do João. Desenvolvemos uma amizade profunda. Foi muito decepcionante perder aquele carnaval. Eu acho que Joãosinho começou a morrer ali. Foi uma golfada de vida que ele teve de engolir.”
O enredo da escola este ano é São Luís do Maranhão, cidade de nascimento de Joãosinho, que morreu dia 17, aos 78 anos. Em 1989, a Beija-Flor ficou em segundo lugar, perdendo por meio ponto para a Imperatriz, que fez um desfile tecnicamente impecável sobre o centenário da Proclamação da República. A imagem do Cristo e da ala entrou para a história do carnaval. O desfile era o preferido do carnavalesco, que contava 12 vitórias em 31 anos de avenida.
Ubiratan Silva, integrante da comissão da Beija-Flor, contou que Joãosinho iria desfilar no último carro, sentado num trono (ele se deslocava em uma cadeira de rodas desde que ficou com os movimentados limitados, decorrência de dois derrames). Quando a notícia da morte chegou, os planos foram adaptados.
“A decisão foi instantânea. A ligação entre Joãosinho, Beija-Flor e São Luís é direta. A homenagem estará no último setor, que resume as festas populares da cidade”, revelou Bira, que entrou na escola um ano depois da saída de Joãosinho – ele estreara no Salgueiro, em 1973, mas foi alçado ao posto de revolucionário na escola de Nilópolis, à qual se iria se vincular em 76. Nela, sagrou-se campeão cinco vezes; vice, seis.
“Estamos falando de várias personalidades maranhenses, como João, Alcione, Ferreira Gullar, Josué Montello, Rita Ribeiro, Zeca Baleiro. João não poderia faltar. O legado de sua linguagem artística rendeu frutos não só para a Beija-Flor, mas para o carnaval. Todo mundo vai estar muito emocionado.” O enredo terá patrocínio de empresas que atuam no estado do Maranhão.