Um erudito compositor japonês, Toru Takemitsu (1930-1996), conhecido autor de trilhas (Ran, de Kurosawa, entre elas), acabou influenciando dois guitarristas clássicos, um da Suécia e outro de Montenegro, a gravar músicas de um quarteto inglês, com certeza o mais famoso do século 20: os Beatles. Essa mistura de nacionalidades prova que os Beatles já viraram há muito os clássicos de nosso tempo, como atesta o violonista Milos Karadagli, premiado músico de Montenegro que, aos 33 anos, faz sucesso com o CD Blackbird, lançado no Brasil pela Universal.

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Karadagli não hesita em comparar as canções de Schubert com as dos Beatles. Aliás, foi uma delas, clássica, Yesterday, que o fez decidir a entrar no lendário Studio 2 de Abbey Road, onde a banda inglesa gravou a maioria de seus discos, e registrar 14 músicas do conjunto, inclusive Yesterday, que conheceu no conservatório com arranjo de Takemitsu, o mesmo usado pelo sueco Göran Söllscher no primeiro dos dois discos que dedicou aos Beatles, Here, There and Everywhere (1995) – o segundo foi gravado cinco anos depois, From Yesterday to Penny Lane (2000), ambos pela Deutsche Grammophon.

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Os discos de Söllscher são mais sofisticados, até mesmo por sua experiência – ele completa 61 anos em dezembro; Karadagli fez 33 em abril. No entanto, o violonista de Montenegro tem a ousadia dos jovens. Convocou para seu disco a popular Tori Amos para cantar She’s Leaving Home, o jazzista Gregory Porter para interpretar Lei It Be e Anoushka Shankar para contribuir na lisérgica Lucy in the Sky With Diamonds. E, surpresa: convidou o brasileiro Sérgio Assad para assinar os arranjos. De modo geral, funcionam mais as faixas com solos de Karadagli.

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Göran Söllscher, que estreou no disco gravando Bach (em 1979), gosta de inserir transcrições que fez de suas peças ao lado de obras do renascentista inglês John Dowland e dos Beatles em seus recitais. Sabe controlar o trânsito entre eles, reforçando ainda a linhagem barroca de Eleanor Rigby (que ecoa uma composição de Vivaldi), a ousadia romântica de Beethoven em Because (com excertos de uma sonata sua) e as invenções contrapontísticas bachianas em standards dos Beatles.

A segunda compilação de Söllscher, From Yesterday to Penny Lane, contou, inclusive, com a contribuição do compositor erudito cubano Leo Brouwer para fazer os arranjos de um medley com sete canções dos Beatles, provando que música não tem fronteiras.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.