Aos 14 anos e meio, John Lennon levava para casa um boletim com as notas recebidas no Quarry Bank High School. Nelas, os professores diziam palavras como “imprestável”. Em outra, Lennon “se satisfazia na mediocridade”. Ricardo Alexandre, jornalista, curador e diretor de conteúdo da exibição Beatlemania Experience -The Beatles Biography ri da ironia que vem a seguir, vinda do próprio beatle: “E, então, John resolve fundar a sua primeira banda usando o nome do colégio no qual passou por isso.” Assim, seis meses depois de receber aquelas palavras nada elogiosas, Lennon criou a sua primeira banda, The Quarrymen. Dali, nasceriam os Beatles. Dali, nasceria a Beatlemania. Dali, nasceria a maior revolução que a música pop já testemunhou.
O boletim Lennon, entre outra centena de itens de memorabília, estarão dispostos espalhados por um espaço de 2 mil metros quadrados, no estacionamento do shopping Eldorado, em São Paulo, como parte da exposição cuja premissa é não repetir outras mostras de lembranças usados ou lançados pelos Beatles ao longo da década na qual estiveram em atividade – ou nos anos seguintes, é claro. A exposição será aberta ao público a partir da quarta-feira, 24, com ingressos a R$ 50, e entrada agendada de hora em hora.
O “experience”, ou experiência, em português, no nome tem um motivo: a experiência de vivenciar momentos-chave da banda como um espectador e fã que estivesse, por exemplo, naquele que foi o maior show da história da banda, no Shea Stadium, de Nova York, quando os Beatles reuniram 50 mil fãs que pareciam estar em uma competição para decidir qual deles tinha a capacidade de gritar mais alto, em 1965.
“Nossa ideia era propor uma exposição que não fosse como todas a outras, cheias de itens raros de colecionador. Assim começamos a ideia de criar essa experiência”, explica Christian Tedesco, que ao lado de Rodrigo Tedesco e Carlos Branco Gualberto, criou a ideia da exposição baseada na trajetória dos Beatles em 2013. A proposta dele é levar, de alguma forma, à própria experiência que os três sócios tiveram ao organizar a Beatlemania Experience. No ano passado, por exemplo, Christian foi ao estúdio Abbey Road, famoso por ter sido o local da gravação de 12 discos dos Beatles, e ali ficou diante de um piano velho, com as teclas reconstruídas, ao descobrir que aquele instrumento havia sido usado por tantas vezes em discos do quarteto de Liverpool, se emocionou. Ali, Christian entendeu de fato o poder que a ideia de trazer a experiência de estar próximo a momentos dos Beatles seria essencial para que a exposição se diferenciasse do restante já realizado a respeito de John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison – a empresa que cuida dos direitos autorais da banda, por sinal, está ciente da exposição, mas o Beatles Experience é uma mostra não-oficial.
Grande parte das peças e itens espalhados pelo caminho proposto e imaginado por Alexandre, são reunidos de colecionadores. O principal deles é Bob Folch, famoso até fora do País. Lizzie Bravo, a brasileira conhecida por ter cantado com os Beatles e ter a fama de “maior fã dos Beatles”. Ela auxiliou a equipe do Beatlemania Experience a encontrar outros itens curiosos do acervo, como a caixa de bombons de chocolate de onde George Harrison copiou os versos para Savoy Truffle, canção do Álbum Branco, o disco que levava o nome da banda mas acabou renomeado pelos os fãs pela cor de capa, de 1968.
São três pilares, conta Alexandre, que sustentam o Beatlemania Experience: cenografia, informação jornalística e, por fim, memorabília. “A cenografia, sem dúvida, traz essa sensação mais emocional. É uma representação quase lúdica de lugares históricos ou que se tornaram históricos após a passagem dos Beatles”, explica o curador.
A cenografia, já quase inteiramente pronta quando o Estado foi até a tenda montada no shopping Eldorado, é de encher os olhos em alguns dos casos. Alexandre e os criadores da exposição criaram um caminho a ser percorrido que segue uma ordem cronológica e geográfica, iniciado em um período pré-Beatles, no qual se explica como a Inglaterra se reconstruía após os intensos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945).
Passa-se, na sequência, para um cenário que recria a cena em frente à igreja St. Peter’s, em Liverpool, onde um jovem Paul McCartney pede para ingressar no The Quarrymen e, assim, nasceu a história da parceria que tem até nome próprio Lennon-McCartney . O restante é a história que todos os fãs da banda conhecem – e, agora, terão a chance de pelo menos ter a sensação de estar lá.
SERVIÇO
BEATLEMANIA EXPERIENCE
Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3970 – Pinheiros. De 24 de agosto a 30 de setembro, de ter. a dom., a partir das 12h. R$ 50.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.