No mundo inteiro, todo começo de ano pipocam liquidações de tudo que se possa imaginar. No reino dos downloads de música clássica, isso é ainda mais verdadeiro. Rola na web uma pechincha diante da qual nem o mais ferrenho defensor dos CDs físicos deixa de ficar balançado. Vinte CDs trazem alguns dos maiores músicos do século 20 em memoráveis performances ao vivo por US$ 24,99 (em reais, 57,50 ao câmbio de 2,30). Cada CD sai por menos de R$ 3.
A responsável pelo milagre é a BBC inglesa, que banca e registra apresentações de música clássica desde os anos 30. Possui, portanto, um dos mais ricos acervos fonográficos do século 20. A lista é um “who’s who” da música clássica. Nomes ilustres como Monteux, Mravinsky, Giulini, Beecham, Toscanini e Rozhdestvensky entre os regentes; Annie Fischer, Sviatoslav Richter, Clifford Curzon, Benedetti Michelangeli, Emil Gilels, Arthur Rubinstein e Wilhelm Kempff entre os pianistas; David Oistrakh, entre os violinistas; Mstislav Rostropovich entre os violoncelistas; Dennis Brain entre os trompistas; e Janet Baker entre as cantoras.
Todos estão presentes na caixa digital com 20 CDs BBC Legends. Existe também a versão em CDs físicos, mas atenção: na Amazona os preços do digital e do físico são de 98 dólares; só no site www.classicsonline.com é que sai por R$ 24,99.
A escolha foi pra lá de feliz. Há pepitas em praticamente todos os CDs. As dobradinhas são de sonho, como Mravinsky e Filarmônica de Leningrado/Oitava de Shostakovich; Carlo Maria Giulini em Quadros de Uma Exposição e na Sexta de Tchaikovsky com a Philharmonia.
Provavelmente, o domínio mais apetitoso é o dos pianistas. É dificílimo escolher um. Mas fico com o CD do excêntrico pianista italiano Arturo Benedetti Michelangeli (1920-1995), mestre de Martha Argerich. Ele o gravou em duas sessões nos estúdios londrinos da BBC em 30 de junho de 1959 e 12 de maio de 1961. A qualidade de som é excelente. Na primeira delas, a sonata opus 12, no.1, de Muzio Clementi, músico italiano que dominou as primeiras décadas do século 19 na Inglaterra como compositor, editor e fabricante de pianos; e a segunda sonata, opus 35, de Chopin, famosa pela marcha fúnebre; na segunda, em 1961, flanou etereamente sobre duas sonatas de Domenico Scarlatti e fez uma leitura muito pessoal da sonata opus 111, de Beethoven. Em suma, performances raras de um grande pianista obcecado pela busca da perfeição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.