Iniciada no fim de semana, a Mostra de Tiradentes, na cidade histórica de Minas, já prestou suas homenagens a duas mulheres guerreiras, as atrizes e diretoras Leandra Leal e Helena Ignez, que receberam o troféu Barroco. Na segunda à noite, Helena e Ney Matogrosso, ator de seus filmes Luz nas Trevas e Ralé, tiveram um encontro com o público para debater sua parceria, e também cinema e música. Justamente na segunda, 23, começou a Mostra Aurora.
É a menina dos olhos de Tiradentes, a grande vitrine do cinema autoral e independente do Brasil. São duas datas cheias em 2017. A 20Mostra de Tiradentes e, dentro dela, a 10ª Mostra Aurora. Existem, de qualquer maneira, outras mostras aqui – Mostra Praça, Homenagem, Foco, Experimentos, Olhos Livres, Mostrinha, Mostra Bendita, em oposição às tradicionais sessões malditas da meia-noite. Mas a mais importante é a Aurora. Este ano, o curador Cleber Eduardo selecionou sete títulos inseridos dentro do tema geral da 20ª Mostra de Tiradentes – Cinema em Reação, Cinema em Reinvenção. Houve uma mesa muito interessante para debater o assunto, com a participação do pesquisador André Gatti, dos cineastas Cavi Borges, Eduardo Valente e Frederico Machado, este último dublê de diretor e distribuidor (Lume Filmes), mais a distribuidora Talita Arruda, da Vitrine.
Foram abordadas questões essenciais – circulação e visibilidade. Se o mercado exclui o cinema autoral, independente e barato, que alternativas têm esses filmes? A experiência da Spcine, criada pelo ex-prefeito Fernando Haddad em São Paulo, foi citada por sua importância. Voltada à formação de público em áreas de exclusão social e de risco, a experiência alterna filmes independentes com blockbusters, sem enfiar goela abaixo do público (jovem, principalmente) que ele só tem de ver a produção autoral. Toda discussão é bem-vinda, os encontros são salutares – Pitangas, Uma Família de Arte reuniu pai e filha, os atores Antônio Pitanga e Camila, agora também diretora -, mas os filmes são a cereja do bolo.
A estreante Juliana Antunes inaugurou a Mostra Aurora com Baronesa, e num ano que homenageia as mulheres, não poderia ter havido melhor começo. O filme dá voz às mulheres da periferia de Belo Horizonte. Em cenários precários – uma casa em construção, uma favela em guerra -, elas conversam entre si e com seus homens. Uma dor irreparável dilacera as entranhas de uma das protagonistas. Documentário, ficção? Cinema nas bordas. Como o belíssimo O Homem Que Matou John Wayne, de Diogo Oliveira e Bruno Laet, na Mostra Cinema em Reação. O sonho de cinema de Ruy Guerra – um dos nomes históricos do Cinema Novo -, seu confronto com o mítico Duke, de Hollywood. Tiradentes está fervendo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.