Rock gaúcho

Banda Replicantes celebra 30 anos de ‘faça você mesmo’

Replicantes eram os androides do clássico filme Blade Runner (1982), de Ridley Scott. Eram humanoides construídos para guerrear, divertir, fazer sexo e trabalhar pelos seres humanos – mas não para terem problemas existenciais. Até que eles começam a articular as questões fundamentais: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

O nome com que foi batizada a banda Os Replicantes é muitíssimo apropriado: em 1984, a partir de uma garagem da Rua Marquês de Pombal, em Porto Alegre, num cenário em que os grupos de rock gaúchos ainda não sabiam o que significava a autogestão, eles chegaram mostrando o princípio fundamental do rock, o “faça você mesmo” do punk rock. Essa história de 30 anos de uma das mais importantes bandas brasileiras ganha uma retrospectiva nesta sexta-feira, 11, em show único na choperia do Sesc Pompeia.

Músicas como Surfista Calhorda (“Corpo de atleta e rosto de Baby Johnson”), Festa Punk e Ele Quer Ser Punk foram fundamentais na formação de uma geração roqueira. Seu disco, O Futuro é Vortex, de 1986, é um dos álbuns-chave da década. E a banda nunca parou, está na estrada até hoje – acaba de voltar de uma turnê de 12 shows pela Europa.

“Replicantes está entre as bandas com as melhores letras do rock nacional. Como um todo, e não apenas do punk”, analisa o jornalista, escritor e crítico gaúcho Marcélo Ferla. “São letras muito urbanas e muito modernas, mas nada modernosas, e com um apelo politicamente incorreto que assustaria a geração videogame. Neste sentido, é um The Clash do rock brasileiro – não musicalmente, mas pelo refinamento lírico.”

Claudio Heinz, guitarrista, hoje cinquentão, tinha 20 anos na época e conta que não tinha nenhuma influência em particular. “Demorou muito para chegarem as coisas aqui. Eu gostava de Velvet Underground, mas só fui ouvir Sex Pistols em 1983. Eu te confesso que comecei a ouvir tudo muito depois, como Ramones. O que a gente fazia era barulho. Eu gostava de Dead Kennedys, mas havia um oceano entre ouvir aquilo e conseguir tocar aquilo”, diverte-se.

A primeira formação tinha Claudio e seu irmão Heron Heinz (baixista), além de Carlos Gerbase, cantor e hoje cineasta e professor de cinema. Gerbase, que saiu do grupo em 2002, voltou a fazer um show em dezembro do ano passado para festejar os 30 anos do grupo. “Decidi sair de Os Replicantes em 2002, depois de constatar, pela enésima vez, que havia certas incompatibilidades entre fazer shows de madrugada e dar aula às 8 da manhã, especialmente quando o show era em São Borja, e a aula, em Porto Alegre. Mas uma parte de mim ficou na banda e se recusava a sair da estrada”, escreveu.

Com a saída de Gerbase, entrou no grupo o cantor Wander Wildner, que ficou até 2006. Quem também está na banda desde quase o princípio é o baterista Cléber Andrade, que ingressou no time em 1990. Depois de Wander Wildner, assumiu os vocais uma antiga fã da banda, Julia Barth, que tinha apenas 2 anos de idade quando o grupo começou (hoje tem 32 anos). “Ela sabia todas as letras, era a mais inteirada. Contam que ela foi levada ao nosso primeiro show com apenas 2 anos. Encaixou perfeitamente no grupo”, conta Cláudio.

O primeiro show do grupo fora em 16 de maio de 1984, no Bar Ocidente. Eles tinham então uma única música de “trabalho”, Nicotina, gravada num estúdio de 4 canais e que tinha saído num compacto independente com mil cópias.

Mas o compacto correu o País e logo eles se viram em um estúdio da Rádio 89 FM, em São Paulo, ao lado de Rita Lee e Kid Vinil, em 1985, para uma entrevista sobre seu trabalho. A gravadora BMG ficou interessada pela cena da qual faziam parte e contratou cinco bandas gaúchas emergentes, entre elas Garotos da Rua, De Falla e Engenheiros do Havaí. Todas costumavam se apresentar no festival Rock Unificado, no Gigantinho, para plateias entusiasmadas e em shows lotados.

Os Replicantes, com seu componente punk clássico, foi muito influente no hardcore dos anos 1990 e continua firme na sua pegada. Tem mais de 30 músicas preparadas para o show desta noite, ,como a pioneiríssima Rock Star, uma zoeira punk. “A gente fez uma festa para lembrar o que fizemos, o que vivemos. Só que a gente está vivo. Quero seguir adiante”, diz Heinz.

Sobre a influência que os Replicantes tiveram em bandas posteriores, o ex-vocalista e compositor Carlos Gerbase escreveu, no jornal Zero Hora. “Alguns deles eram bastante jovens, ou nem tinham nascido, quando Os Replicantes compraram seus instrumentos na esperança de aprender a tocar, outros já sabiam bastante sobre rock’n’roll e nos ensinaram coisas importantes, mas creio que todos compartilham a ideia de que a música é divertida demais para ser deixada apenas para os virtuoses. Meu maior orgulho ainda é ouvir a seguinte frase: ‘Quando ouvi Replicantes pela primeira vez, percebi que, se vocês tocavam, eu também podia tocar’.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna