Aquele talvez fosse o pior dos dias para o vocalista e guitarrista do Vitrola Sintética estar sem sinal no telefone celular. Era 21 de setembro deste ano e Felipe Antunes, em reunião, estava ausente. Sinal restabelecido, o susto. Mensagens não lidas, ligações perdidas, tudo aos montes. A primeira pessoa para quem ligou foi Otávio Carvalho, responsável pelo baixo e programações do agora quarteto paulistano. “Fomos indicados e você está sumido?”, disse o companheiro de banda ao receber a chamada do amigo.
O feito do Vitrola Sintética é, no mínimo, louvável. A banda indie, dona de uma adorável esquisitice esculpida de MPB, com suas canções ora límpidas, ora poluídas de barulhinhos e programação, foi indicada pela segunda vez consecutiva para o Grammy Latino, a versão local da maior premiação da música. Desta vez, eles estão entre os finalistas da categoria de melhor canção alternativa de 2016 com a faixa Deus, lançada em Sintético B, um EP em vinil de sete polegadas – o que faz sentido para uma banda cujo nome inclui “vitrola” -, pela Sony Music. A última vez na qual o País foi representado por algum artista nessa categoria ocorreu na cerimônia realizada no fim de 2012. O artista em questão foi Caetano Veloso, com a música Neguinho, gravada por Gal Costa no disco dela, Recanto, do ano anterior. A cerimônia da edição de 2016 será realizada em 17 de novembro.
“Estávamos desligados naquele dia”, explica Antunes, já nesta última quarta-feira, 2, devidamente atento à ligação do jornal “O Estado de S. Paulo” no estúdio de Carvalho – o Vitrola ainda é integrado por Rodrigo Fuji (guitarra e piano) e Kezo Nogueira (bateria).
A surpresa, contam Carvalho e Antunes, foi a mesma – talvez até maior – do que na primeira indicação para o Grammy Latino. No ano passado, o Vitrola Sintética foi indicado em duas categorias (como artista revelação e melhor engenharia de som para o disco Sintético, de 2015, o terceiro deles), o que pegou a banda desprevenida. Desta vez, a surpresa se deu porque Deus, a faixa escolhida, é o que eles gostam de chamar de “lado B do nosso lado B”.
As duas canções de Sintético B – Deus e Ar e Vazio – são faixas que não se encaixaram na narrativa estética criada pela banda em Sintético, o disco. “Achamos que elas poderiam ter mais força se lançadas dessa forma”, explica Antunes. “E o Sintético já possui muita informação.”
Deus e Ar e Vazio, além de integrarem essa versão física em vinil, também estão incluídas em uma versão deluxe de Sintético, um dos grandes discos de 2015, disponível nos serviços de música por streaming. “Nos surpreendeu também o fato de que essas músicas vieram da mesma safra de Sintético. Parecia improvável que seríamos indicados por algo que veio de um mesmo processo”, avalia Antunes.
Tudo nascido ainda em 2013, ao final do ano, quando a banda passou por quase duas semanas na Argentina, em turnê, com shows em Buenos Aires, La Plata e arredores. Ali, no excesso de convivência que só um período dividindo um mesmo teto – e paredes não tão distantes assim – pode oferecer.
Sintético inaugurou um novo processo de criação em estúdio por parte do Vitrola, conta Carvalho. “Nos dois primeiros discos (Notícias e Expassos, de 2009 e 2013), fazíamos um esquema de banda. Chegávamos ao estúdio e gravávamos”, diz o baixista. “Desta vez, construímos as canções sobre uma base de voz com instrumento harmônico.” O Grammy Latino aprovou a mudança.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.