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Banda Cordel do Fogo Encantado manteve retorno em sigilo até para familiares

Lirinha confessa estar aliviado com o fim do mistério. Sim, o Cordel do Fogo Encantado está definitivamente de volta. Há mais de um ano, ele e o restante do quinteto guardam o retorno da banda em segredo, por mais difícil que fosse. No grupo de família de WhatsApp, por exemplo, o vocalista, poeta e declamador evitou dar detalhes sobre uma possível reunião. Na semana passada, conversou com os irmãos e explicou o motivo de tanto sigilo. “Meus pais estavam sabendo, mas nunca cheguei a me aprofundar demais no assunto”, conta.

Nas gravações do disco, o quarto do grupo, Viagem ao Coração do Sol, no estúdio El Rocha, localizado entre os bairros de Perdizes e Pinheiros, em São Paulo, era comum que os cinco integrantes do Cordel do Fogo Encantado se dividisse em grupos nas saídas para o almoço, na tentativa de evitar o início de um burburinho, caso fossem reconhecidos na rua. E, quando acontecia, os músicos despistavam, diziam que trabalhavam na trilha sonora de um filme, como fizeram em Deus É Brasileiro, de Cacá Diegues, e Largou as Botas e Mergulhou no Céu, de Bruno Graziano, Cauê Gruber, Paulo Junior e Raoni Gruber. A música para o último, aliás, foi a única “reunião” da banda nos oito anos em que esteve em estado de inanição – as aspas se justificam porque Lirinha gravou a voz em São Paulo enquanto o restante do grupo registrou a música no Recife.

“Cheguei a ter receio de que esse sigilo fosse interpretado como uma arrogância”, revela Lirinha. “Mas esse silêncio foi importantíssimo para o que vamos apresentar agora. Havia muita energia do mercado, dos fãs, para que a gente voltasse. Existia um assédio em nossa volta, para que fizéssemos shows especiais, tocássemos em festivais. Com isso, a gente conseguiu se concentrar naquilo que, para mim, é o mais importante: na criação de novas músicas que dialogassem com o presente”, conclui.

Segundo conta Lirinha, não havia sentido, para eles, retomar o Cordel do Fogo Encantado ancorado num sentimento de nostalgia, de olhar para trás, para o passado. O grupo surgido no final dos anos 1990, como um espetáculo cênico-musical, foi fundamental ao trazer um encontro contemporâneo, na época, do sertão e do urbano, graças à poesia e à literatura ora declamada, ora cantada por Lirinha, ao violão calejado de Clayton Barros e ao poder de transe criado com a união da percussão executada por Emerson Calado, Nego Henrique e Rafa Almeida. “Era preciso focarmos nas novas composições e na organização da nossa discografia nos meios digitais. Estava tudo muito bagunçado”, conta Lirinha.

Ao longo dos oito anos nos quais a banda foi colocada em um casulo, cada um dos integrantes partiu para projetos particulares. Lirinha, por exemplo, lançou dois discos solos se aproximando mais do formato da canção; Clayton criou a banda Os Sertões, com a qual mostrou seus estudos no avanço da sua técnica muito própria no álbum A Idade dos Metais; Rafael tocou com o pianista Vitor Araújo; Nego Henrique criou projetos sociais e canta em iorubá com Karynna Spinelli; e Emerson estreou a banda Nume.

As reuniões para organizar o catálogo musical do grupo saltaram para as tardes passadas em um estúdio, no Recife, para a criação das novas músicas. Do disco iniciado em 2010, restaram “três ou quatro bases”, conta Lirinha. E assim, num dia de semana qualquer, o Cordel do Fogo Encantado dividia um mesmo cômodo, com instrumentos a postos. “Tinha medo de não conseguir cantar”, diz o vocalista. “Estávamos mais velhos, mais experientes, mas estava tudo ali”, conclui, orgulhoso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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