O primeiro encontro, no Municipal do Rio, resultou numa antipatia mútua. Décio Otero, mineiro, partiu para a Europa, a convite do coreógrafo Serge Golovine. Marika Gidali, húngara radicada em São Paulo, ficou na cidade, elaborando coreografias para teatro, com Ademar Guerra. Décio e Marika só voltaram a se ver 15 anos depois, em 1971. Dessa vez foi amor à primeira vista, com casamento, dentro e fora do palco. No mesmo ano, fundaram o Ballet Stagium. Nas palavras da crítica Helena Katz, divisor de águas da história da dança nacional do século 20.
Feita por Emidio Luisi, uma foto de Décio e Marika, de 1976, no espetáculo “Quebradas do Mundaréu”, adaptação da companhia para Navalha da Carne, texto de Plínio Marcos proibido pela censura, se encarrega de dar boas-vindas aos visitantes da Ocupação Ballet Stagium, que abre ao público amanhã, no Itaú Cultural. Em cerca de 100 m², a mostra, 11.ª edição do projeto, sintetiza a história dos 40 anos do grupo, destacando seu revolucionário trabalho, suas andanças pelo País e a concepção de um jeitinho brasileiro de dançar.
O olhar de Edgar Duprat, filho de Marika, é o ponto de partida da Ocupação. Ainda garoto, ganhou de Décio, seu padrasto, uma super 8. Por diversão, passou a filmar tudo que acontecia na companhia, em que dançou por 15 anos e hoje, aos 50, atua como produtor. “Na Europa, o Décio viu que era comum registrar coreografias. A princípio, a câmera servia para evitar que nossos balés fossem esquecidos”, diz ele, que assina, com Pedro Markun e Carlos Gardin, a curadoria da mostra.
Duprat fez mais. Filmou peças, apresentações em praças públicas, viagens, aulas e momentos de criação. Com o convite do Itaú, entrou no estúdio para digitalizar as mais de 1.200 horas de imagens, que originaram 45 vídeos, que serão exibidos em 50 telas de dimensões variadas.
Montado de forma mais orgânica, sem preocupação com explicações e datas, o circuito da mostra começa numa espelhada sala de aula de dança, com suas tradicionais barras de ferro. Em meio às silhuetas de Marika e Décio, monitores mostram cenas de criação do Stagium. Na sequência, trechos de “Convite à Dança”, programa da TV Cultura, que marcou seus passos iniciais. Duas importantes viagens do grupo ganham destaque: as apresentações em cidades ribeirinhas do Rio São Francisco, em 1974, e a passagem do Ballet pelo Alto Xingu, em 1977. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ocupação Ballet Stagium – Itaú Cultural (Av. Paulista, 149). Tel. (011) 2168-1776. 9h/20h (sáb. e dom., 11h/20h). Grátis. Até 22/1. Abertura hoje, 20h, para convidados.