A arte do italiano Stefano Poda é profunda e reflexiva. Reflete sobre a vida, a condição humana, nosso tempo e sobre a própria arte. A música guia artistas e público nessa jornada. Segundo Poda, é ela que “leva a alma a outra dimensão inefável” e que, com a dança, pode se transformar em meditação e poesia “união de alma e corpo”. Poda é o criador de Titã, trabalho do Balé da Cidade de São Paulo que estreia neste sábado, 10, no Teatro Municipal.

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Titã é como a Sinfonia N.º 1 em Ré Maior, que o austríaco Gustav Mahler (1860-1911) compôs em 1888, é conhecida. Mas o próprio Mahler a chamou assim apenas nas primeiras apresentações. Depois, abandonou o nome, assim como um movimento adicional que havia criado, chamado Blumine. O artista italiano recupera Blumine e ideias iniciais do compositor.

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Poda escolheu a Sinfonia N.º 1 porque, além de ser apaixonado por Mahler, acredita que o músico conversa com a pós-modernidade. “(A sinfonia) significa o que Proust fez na literatura. Um ponto de não regresso. Significa toda a contemporaneidade, porém, com aparência ainda clássica.”

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Assim como a música, a coreografia é permeada por luz e escuridão, vida e morte e tudo o que possa preencher esses extremos. “Titã conta a história de cada um de nós. A história não só de nossas vidas, mas de nossos dias, instantes e humores”, diz Poda. “Mais do que um espetáculo, se trata de um ritual de vida e arte, que abrange todas as experiências simples, naturais e vitais: desde a sensorial, visual, até a emocional.”

Poda chama o “nosso tempo” – sobre o qual propõe refletir – de confuso, difícil e perigoso. “Um tempo de transição, em meio a uma revolução tecnológica rápida demais, em que tudo ficou aparentemente acessível, mas as grandes questões humanas ficaram sem solução.” Desse modo, segundo ele, o teatro deveria ter a função que antes era da igreja e do museu: “Permitir, na maldição da pressa do dia a dia, um instante de reflexão íntima, a possibilidade do encontro consigo mesmo.”

Poda tem um método de criação independente e artesanal. Nos trabalhos que faz pelo mundo, assina a direção de cena, coreografia, cenografia, desenho de luz e figurinos. Explica que, desde a infância, desenha e cria a partir da música. “Como o ladrão que quer abrir um cofre sem combinação, encosto o ouvido e espero o ‘click’, escutando a música. Quando o ‘click’ chega, a visão vem completa e se trata somente de traduzi-la na realidade.”

Tanto trabalho é dividido apenas com um assistente, Paolo Giani Cei, responsável pela dramaturgia. Poda afirma que, como ele, seu colaborador não faz distinção entre concepção e desenho, criação e execução.

O italiano é conhecido principalmente pelas montagens de óperas que faz pelo mundo. E foi em uma delas – o sucesso de público e crítica Thaïs, que montou em 2015 para o Teatro Municipal – que conheceu parte do elenco do Balé da Cidade. A experiência foi tão positiva que a diretora artística da companhia, Iracity Cardoso, resolveu convidá-lo a criar para o grupo.

O trabalho começou em julho. Foram seis semanas no estúdio e a última semana no palco. Iracity conta que Poda fez a companhia mergulhar em emoções e sensações profundas. “Cada um deles teve de se despir de defesas ou fórmulas da dança contemporânea para exprimir em conjunto e de maneira precisa as intenções e propostas da obra.”

Os 34 bailarinos do Balé da Cidade dançam Titã, que tem 70 minutos. A música será executada pela Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, com regência do maestro residente Eduardo Strausser. Segundo Iracity, após a temporada de Titã, a companhia trabalhará em uma versão contemporânea de O Quebra-Nozes, de Alex Soares, que estreará em novembro. Ainda neste ano, Poda assina a montagem da ópera Fosca, de Antônio Carlos Gomes, com récitas em dezembro. Parte do elenco do Balé da Cidade estará na produção.

TITÃ

Teatro Municipal. Praça Ramos de Azevedo, s/nº. Tel.: 3053-2090.

Sáb. (10), 3ª (13), 4ª (14) e 5ª (15), 20h; dom. (11), 17h. R$ 25/ R$ 90.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.