Baixinha arretada

DivulgaçãoAlguns tipos caem no gosto popular. Como Agostinho Carrara, de Pedro Cardoso, o bandido Jácson, de Heitor Martinez, ou Gustavo, de Marco Ricca, das respectivas produções A grande família, Vidas opostas e Paraíso tropical. Marinete também é um desses. Ela é A diarista, da Globo, cujo último episódio será exibido no próximo dia 31.  

A personagem é uma empregada doméstica enrolada, brigona e que invariavelmente se mete em confusões. É, de certa forma, previsível, já que em nossa teledramaturgia cabe aos personagens populares as badernas, gritarias e atitudes explosivas baseadas na comédia corporal e até no pastelão. Porém há uma diferença. A personagem de Claudia Rodrigues é a protagonista da série semanal, um raro destaque para uma personagem quase sempre relegada ao elenco de apoio.

Mas que sempre recebeu algumas das melhores falas da literatura, em autores da estatura de Shakespeare. Molière não seria Molière sem suas empregadas, como a Dorina de Tartufo, e Mozart sem o Leporello de Don Giovanni, entre tantos outros autores e personagens. Não existe telenovela no Brasil sem empregados domésticos. Que o digam Janete Clair, Manoel Carlos, Lauro César Muniz e Gilberto Braga.

Há um bom motivo para todos esses mestres se aproveitarem da copa e da cozinha. É a empregada quem pode fazer comentários sem grandes pudores sobre os problemas dos patrões e transformar o drama existencial da sala de estar em futrico da cozinha. Ao mesmo tempo, é ela quem goza da intimidade dos senhores, sabe os segredos de alcova, conhece as fraquezas dos poderosos e a grandeza dos serviçais. Se é o vilão que movimenta a história, cabe ao empregado comentá-la e, muitas vezes, resolvê-la.

Todo esse potencial foi bem explorado por Claudia Rodrigues e o apelo comercial de seu personagem confirma. O formato semanal do programa que será substituído por Toma lá dá cá a partir do dia 7 permitiu a ela, aos diretores José Alvarenga e Luciana Oliveira e aos roteiristas Bruno Mazzeo e Aloísio de Abreu criar histórias diferentes e desiguais a cada episódio. Na penúltima semana, Marinete presa em um engarrafamento conseguiu brigar com meio Rio de Janeiro, onde se passa a série. Semana passada ?trabalhou? como diarista em uma casa de velhos ?hippies? em Santa Teresa, bairro carioca dos artistas.

O elenco de apoio é outro dos trunfos de A diarista, que contou com as ótimas atuações de Dira Paes, como a tonta Solineuza, e Sérgio Loroza, o atrapalhado Figueirinha, além de Helena Fernandes, a Ipanema, e Claudia Mello, como Dalila.

De qualquer forma, A diarista demonstrou que uma personagem clássica pode ganhar nova vida. Tudo depende de um grande ator.

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