Não é surpresa para nenhum aluno da cadeira de Ciência da Vida, da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) ver o nome do professor, o doutor em paleontologia evolucionária pela Cornell University, Greg Graffin, ser citado nos jornais. A diferença é que em vez de aparecer nas revistas científicas, Graffin está mais presente na Rolling Stone, Mojo ou outra publicação qualquer voltada para a música. Com 30 anos de carreira, comemorados este ano, o líder do Bad Religion divide seu tempo entre a universidade e os palcos, em shows de punk rock.
Nos últimos meses, no entanto, Graffin tem se dedicado mais à música do que à universidade, já que recentemente foi lançado, nos Estados Unidos, o 15º álbum da banda: “The Dissent of Man”. O trabalho segue a linha do último CD, “New Maps of Hell”, lançado há três anos. Amadurecido, com canções mais melódicas, além de harmonias bem construídas, o novo disco é exemplo do caminho que o doutor em paleontologia decidiu traçar para a sua banda: fidelizar os fãs mais antigos e conquistar novos adeptos do hardcore politizado que exibe em suas letras.
No Brasil, o disco só chegará no início do ano que vem, mas o álbum pode ser comprado em sites de vendas, por R$ 69,90. O álbum inicia com as faixas “The Day The Earth Stalled”, “Only Rain” e “The Resist Stance”. As três canções têm uma pegada mais pesada, bem ao estilo das composições dos primeiros discos, justamente para agradar aos fãs mais velhos. Mas o trabalho é mais do que isso. Depois de provar que sabe fazer o bom e velho punk-rock, o doutor Graffin parte para uma experimentação em composições que alternam o hardcore melódico com pop e punk, com destaque para as canções “Someone to Believe”, “Cyanide” e “Turn Your Back On Me”. O disco termina com “I Won’t Say Anything”, uma balada pop perfeita para tocar nas rádios sem chocar nenhum ouvido mais sensível.
Nos Estados Unidos, o grupo lançou também uma edição de luxo do álbum, com LP de vinil e camiseta vintage com a arte da capa do disco. Os fãs ainda são presenteados com uma cópia autografada do livro “Anarchy Evolution” (Evolução da Anarquia, numa tradução livre), de autoria de Graffin, além de “Evolution and Religion”, (Evolução e Religião), reedição da tese de doutorado do vocalista. Um prato cheio para os fãs. Ao todo, foram feitas apenas mil cópias dessa edição.
Apesar de lançar livros sobre anarquia e a história da evolução, as letras do Bad Religion não pregam a anarquia, a revolução ou a violência. Eles preferem utilizar a música para fazer críticas políticas e sociais. É o caso da letra de “The Resist Stance”, incluída no novo disco, que diz: “Sementes de rebelião pairam do lado de fora da sua porta / Se você alimentá-las e regá-las elas irão crescer saudáveis. Mas para que? / E se a revolução não for o que está na loja? /Como você pode se importar mais?”.