B.B. King nem foi, mas já faz falta

O que levava aquela moça a querer apenas um beijo? Aquela que saíra correndo pelos corredores do Teatro Guaíra, pulara no palco e era contida com dificuldade por dois seguranças. E o que levava aqueles tantos que lutavam desesperadamente por uma palheta ou uma correntinha, correndo sérios riscos naquelas escadarias do teatro?

Era a oportunidade de estar um pouco mais perto, de ter ao menos uma lembrança de B.B. King, o maior artista de blues vivo, que na terça fez sua última apresentação em Curitiba, a penúltima no País – ele encerra a Farewell World Tour hoje, no Rio de Janeiro.

Os poucos que puderam ir ao Guairão, apesar do impeditivo preço do ingresso, viveram uma noite de fantasia. Talvez porque saibam que era uma de suas últimas apresentações pelo mundo, B.B. King (?The King Of Blues?, como diz seu saxofonista e mestre de cerimônias Melvin Jackson) fez um show solto, sem maiores preocupações – a não ser a de divertir-se e divertir o público.

Falou muito mais que de costume. Brincou com a idade: ?Se vocês acham que eu estou meio velho, vocês estão certos?. Fez piada com os remédios da terceira idade: ?Eu tenho bons médicos, o doutor Viagra, o enfermeiro Levitra e o chefe do serviço, o senhor Cialis?. Falou das mulheres: ?As mulheres são lindas. Eu nunca vi uma mulher feia?. Atiçou os casais: ?Quando eu contar quatro, as mulheres têm que dar um beijo nos homens, certo??.

E tocou. Claro que B.B. King não tem mais a mesma vitalidade de vinte anos atrás, mas a magia dele e de sua guitarra Lucille (apresentada como se fosse integrante da banda) ainda é imensurável. Quando toca os solos de Bad Case Of Love, The Thrill Is Gone ou I Love You So Bad, é como se as portas de um novo mundo, repleto de boa música, fosse aberto para poucos mortais.

Ao mesmo tempo, já se sentia no ar aquela tristeza de último encontro. Ele cantou Key To The Highway, que tem versos claros, ?when I live this town / I?m gonna back no more? – ?quando eu deixar a cidade / não voltarei mais?. E como diz uma música que ele gravou com Diane Schuur (You Don?t Know Me), quando ele deu a mão para alguns sortudos, logo depois disse adeus – ?you give your hand to me / and then you say goodbye?. E se emocionou. ?Não quero chorar, mas é difícil?, afirmou, ao se levantar para ir embora. E pela última vez cruzar o palco do Guaíra. B.B. King nem foi, mas já está fazendo falta.

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