No século XVI, um flagelo espalha-se pelo Velho Mundo, causando mortes e mutilações. Conhecida então como o mal francês, essa doença aparentemente incurável assustou enfermos e sadios durante cerca de três décadas, até que Girólamo Fracastoro, médico e poeta famoso, foi convocado para desvendar os seus mistérios. Memórias de um cirurgião-b arbeiro (Editora Bertrand Brasil), romance do médico-escritor Heitor Rosa, parte de uma minuciosa pesquisa histórica para resultar numa leitura prazerosa ambientada numa época em que realizar cirurgias, fazer barbas e cortar cabelos eram atividades bem semelhantes. O narrador é Gioacchino dalla Rosa, o cirurgião-barbeiro do título, que, entre outras coisas, revela o porquê de Fracastoro ter batizado de sífilis aquela terrível doença.
?Eu não tinha a intenção de escrever sobre Girólamo Fracastoro ou a história da sífilis quando preparava uma aula sobre iatrogenia, doença provocada por um medicamento, até me deparar com o mercúrio no tratamento da sífilis?, afirma Heitor Rosa. ?Daí chegar a Fracastoro e seu poema fantástico, ?Syphilis sive morbus ?, foi um passo. Inspiração à primeira vista.?
Memórias de um cirurgião-barbeiro, narrado com muita leveza e humor, é um romance histórico nos moldes das melhores obras de Umberto Eco. Ao retratar a medicina há mais de 500 anos, numa sociedade onde crendice, religião e política se misturavam (principalmente durante a epidemia de uma doença sexualmente transmissível), Rosa mostra que, em certos aspectos, nosso mundo não mudou tanto assim. Como afirma Moacyr Scliar, outro grande médico-escritor, ?não se trata de um trabalho científico, acadêmico; o que temos aqui é um romance que prende o leitor da primeira à última linha?. E, assim, Heitor Rosa prova, com todas as letras, que a literatura pode, sim, ser uma cura para todos os males.
Livro: Memórias de um cirurgião-barbeiro. Lançamento: outubro de 2006. Autor: Heitor Rosa; Preço: R$ 29,00. Capa: Raul Fernandes. Formato: 14 x 21 cm. Páginas: 208.