Chegou ontem, 12, a Belo Horizonte o desenhista italiano Ivo Milazzo, de 66 anos, autor de uma das histórias em quadrinhos mais importantes da história, o western Ken Parker, referência para cartunistas como Laerte Coutinho e para músicos como Arrigo Barnabé. Oficialmente, Milazzo volta ao Brasil após 15 anos para lançar (no Festival Internacional de Quadrinhos, que começa nesta quarta-feira, 13) quatro álbuns inéditos de sua maior criação pelo Clube dos Quadrinhos.
Mas, extraoficialmente, ele tem uma missão a mais: chega a São Paulo nos dias 17 e 18 para acertar detalhes de um projeto conjunto com um grupo de desenhistas brasileiros. Os desenhistas (um dos que o aguardam é Klebs Jr., da Impacto Quadrinhos) vão trabalhar pela primeira vez numa nova série de Ken Parker, sob encomenda da editora italiana Mondadori. A série será publicada na Itália, e Milazzo fará a supervisão de todo o trabalho.
O gibi cult Ken Parker (um episódio antigo do quadrinho, A Nação dos Homens, está valendo R$ 600 no Mercado Livre), influenciado pelo western spaghetti, mostra uma abordagem humanista da história do faroeste. Nenhum tema era tabu para seus autores, Milazzo e Giancarlo Berardi (o escritor). O primeiro álbum, com capa dura, que está chegando às livrarias do Brasil esta semana, Os Condenados, fala de um trágico amor homossexual numa penitenciária encravada num pântano da Flórida.
Todas as quatro histórias são em preto e branco. Permitem uma panorâmica pela vida do protagonista, o caubói errante Ken Parker (inspirado originalmente por um filme de Sydney Pollack, Jeremiah Johnson). Nos Tempos do Pony Express mostra uma aventura iniciática do herói quando este tinha 17 anos, em 1861. Nessa aventura, Milazzo presta uma homenagem à obra do pintor e escultor Frederic Remington (1861-1909) e ao ilustrador Harold Ron Schmidt (1893-1982).
Já a aventura Cara de Cobre mostra a história do último índio da tribo Yana, o guerreiro Ishi, cujo povo foi devastado pelo genocídio colonizador. Ishi viveu os últimos dias de sua vida em São Francisco, dentro de um museu, como uma espécie de artefato vivo de uma cultura.
Em As Aventuras de Teddy Parker, pela primeira vez entra em cena o filho do protagonista. Teddy Parker é narrado com um certo débito literário para com o universo dickensiano – Teddy perambula como um órfão pelo mundo e se envolve com um cachorro vira-latas, Bix, que acaba se tornando o centro de uma história de intriga e aventura.
Todas as histórias de Milazzo e Berardi têm espantosa envergadura literária. Os autores construíram uma complexa teia de citações eruditas em suas histórias, que envolve também música, teatro, poesia – de Walt Whitman a Shakespeare, dos musicais parisienses ao circo, da luta de boxe aos quakers e a vida nas reservas indígenas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.