“Se vamos cair, que o façamos com estilo!” Quando compôs esses versos, da música Go Down Rockin’, do seu disco mais recente, Bryan Adams queria mostrar que, aos 57 anos, sendo mais de 30 deles dedicados à música, não tem medo de cara feia na indústria fonográfica. Sujeito que já vendeu mais de 100 milhões de cópias ao redor do mundo, foi escalado para cantar em uma cerimônia de jogos olímpicos (em Vancouver, em 2010), entre outras tantas honrarias, reclamava com a própria empresa que o agencia, com seu empresário e com sua gravadora.
Ele estava disposto a assumir o risco com Get Up, o 13º trabalho de estúdio, lançado em 2015, uma nova safra de canções inéditas que interrompeu um silêncio de sete anos, desde 11, lançado em 2008. E é com esse disco – e obviamente os clássicos, tal qual o álbum Reckless, no qual se encontram músicas como Heaven, It’s Only Love, Kids Wanna Rock, Run to You, Somebody e Summer of 69 – que Adams voltará ao Brasil para uma extensa turnê.
Get Up é a força motora que impulsionará as apresentações otimistas de Adams por São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio, ele toca no Metropolitan, em 27 de abril. Na sequência, faz uma minitemporada no Citibank Hall, com shows nos dias 28, 29 e 30 do mesmo mês. A agenda de Adams pelo Brasil seria maior, contudo, e incluiria ainda apresentações em Belo Horizonte, Fortaleza (ambas canceladas por questões na agenda pessoal do artista) e em Porto Alegre (show que não ocorre mais por questões de logística).
O 13º disco da carreira de Adams é uma resposta ao trabalho anterior, cuja feitura, contou o músico canadense ao Estado, foi uma obrigação contratual com a qual não concordava. Em 2014 saiu Tracks of My Years, um disco que chegou ao topo das paradas canadenses, mas foi ignorado pelo mercado norte-americano. Nele, interpretava canções de Beatles, Chuck Berry, Bob Dylan, Beach Boys, entre tantos outros. “Aquele não era o disco que eu queria fazer”, explicou Adams. “Minha gravadora, meu empresário e produtor queriam que eu fizesse. E era obrigatório que as canções escolhidas estivessem entre as dez mais tocadas dos Estados Unidos durante seu lançamento. Se a produção fosse inteiramente minha, o disco teria artistas como Black Sabbath, Led Zeppelin, David Bowie e Deep Purple.”
Em entrevista por e-mail – “é mais fácil e posso pensar melhor nas respostas”, justifica ele, Adams entende que vive hoje a situação de outros cantores e bandas de sucesso no passado com discos fresquinhos chegando às prateleiras. Jon Bon Jovi, por exemplo, disse recentemente que não suportava mais cantar Livin’ on a Prayer nas apresentações do Bon Jovi. Adams tem as próprias Livin’ on a Prayer, como a roqueira de início de carreira Summer’69 e a balada (Everything I Do) I Do It for You, de 1991. “Ninguém liga para as músicas novas”, avalia.
Adams, contudo, não é capaz de deixar as músicas da safra mais recente fora do show. Normalmente, seis são de Get Up, a mesma quantidade do clássico Reckless, de 1984. “Se você quiser irritar os fãs, não toque os clássicos. Eu toco todos e ainda acrescento algumas novas.” Ele vê em Get Up reverberações de Reckless. Chama-os de “discos irmãos”. “Acredito que Get Up seria um ótimo disco para ser lançado na sequência de Reckless. É como se seus pais tivessem um novo filho 30 anos depois de você.”
Assim como fez Sting, outro roqueiro loiro de sucesso estrondoso nos anos 1980 e na década seguinte, que vem ao Brasil no primeiro semestre de 2017, Adams canta o otimismo em seu disco mais recente.
É a receita dos rockstars: acreditar em um futuro melhor. “Brand New Day (música do novo disco) é sobre perceber que, às vezes, o que você tem é ótimo, basta abrir os olhos”, explica Adams. “A grama nem sempre é mais verde do outro lado. Fiz um disco otimista, cheio de verdades. Como Go Down Rockin’, na qual reclamava do que fizeram comigo.” Para encerrar, ele cita o próprio verso: “Se for para cair, que o faça com estilo”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.