Após meses em que manjados recursos dramatúrgicos tomaram conta de Belíssima, algumas surpresas finalmente começaram a pipocar no folhetim das oito da Globo. E prometem esquentar a história, caracterizada até então pelo suspense monótono e maniqueísta, recheado por situações originárias das novelas do rádio – como o fato dos personagens adorarem falar seus mais íntimos segredos em voz alta, só para que algum passante tenha a chance de escutar. Na novela de Sílvio de Abreu, isso chega a ocorrer três vezes no mesmo capítulo. Prova dessa ?pasmaceira criativa? em que Belíssima está é a média de audiência, registrada em 46 pontos no ibope com share de 69%, que não chega a ser tão satisfatória se comparada à média das primeiras semanas, quando a história alcançou 54 pontos e 73% de share.
O autor Sílvio de Abreu continua pautado na velha arte do uso do suspense para prender a atenção do público capítulo a capítulo, mesmo recurso utilizado em outras obras, como A Próxima Vítima, de 1995, e Torre de Babel, de 1998. O problema é que esta jogada, quando repetida à exaustão, esvazia ainda mais a obra e a torna cansativa. No fim, o trabalho corre o risco de perder sua credibilidade, caso o próprio autor não tenha na manga uma carta à altura de um Ás de ouros. Ou seja, fechar as exibições diárias da trama com mistérios baratos pode ser uma grande saída ou uma imensa arapuca.
Talvez por isso, a novela esteja mudando um pouco de estratégia. O suspense não está mais centrado apenas no mistério. Agora, o desdobramento dos fatos que estão em andamento tomou esse espaço, o que faz com que o telespectador não se sinta enganado pelo autor. Isso, sem dúvida, é reflexo também da atuação de alguns atores como Glória Pires. Sua personagem, a Júlia Assumpção, de tão atarantada com a perda de sua fortuna para André Santana, de Marcello Antony, poderá se transformar em uma figura forte dentro da trama. Além dela, outros personagens estão em ascensão na história, caso do pernóstico Tio Gigi, do ator Pedro Paulo Rangel. Nenhum deles, porém, foi capaz até agora de tomar as rédeas da história, como um verdadeiro protagonista.
Mas o que o folhetim das oito da Globo realmente carece é de um antagonista do quilate de Bia Falcão, interpretada por Fernanda Montenegro. Depois que a veterana atriz saiu da trama, nenhum dos aspirantes a assassino conseguiu se impor com sua desenvoltura maquiavélica. O ator Marcello Antony não convence na pele do oportunista André. A novata Letícia Birkheuer também não tem cacife para tamanha responsabilidade. Então, as suspeitas se levantaram contra outros personagens, como Vitória, de Cláudia Abreu. De coitada, a moça já começa a atrair a atenção do telespectador como uma das suspeitas pela morte da megera Bia Falcão. O título de vilão, no entanto, parece que ainda terá muitos indicados até a sua revelação.
Enquanto não chega essa hora, o público pode degustar outros atrativos que têm ajudado Belíssima a manter a audiência. Os núcleos tragicômicos da novela se transformam, a cada capítulo, no principal sustentáculo da trama. Nas cenas na casa de Mary Montilla, personagem de Carmem Verônica, e dos Güney do engraçadíssimo casal Murat e Katina, de Lima Duarte e Irene Ravashe, as gargalhadas são inevitáveis. Não bastasse as boas risadas provocadas pelos atores dos dois núcleos, a tragédia também é protagonizada por eles, como é o caso do interrompido casamento de Cemil e Mônica, personagens de Leopoldo Pacheco e Camila Pitanga.
Aliás, um ator que têm crescido na novela é o sempre eficiente Alexandre Borges, intérprete de Alberto Sabatini , que disputa com Cemil o coração de Mônica. Se os vilões não estão dando conta do recado, o diretor mais ?marrento? da Belíssima não perde tempo em fazê-lo. Mas, de todas as possibilidades que surgem no atual estágio da trama de Sílvio de Abreu, o mais esperado é a ascensão de Júlia. A atriz Glória Pires, que já provou ser ótima vilã e mocinha no ?remake? de Mulheres de Areia, ainda não mostrou serviço em Belíssima. Os desdobramentos, porém, prometem dar à atriz nova chance para brilhar.
