Autor Aleksandar Hemon fala sobre Sarajevo e Chicago

A entrevista estava marcada, mas o escritor Aleksandar Hemon pede para atrasar 15 minutos – logo confessa: ele gostaria de assistir a todo o primeiro tempo do jogo em que o Brasil derrotou o Uruguai, na semana passada, pela Copa das Confederações. Fanático por futebol e esqui, o autor bósnio, que será um dos destaques desta Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, disse, certa vez, que o esporte coletivo o atrai porque obriga os jogadores a tomarem decisões improvisadas em momentos de perigo.

Algo exatamente vivido por ele, mas não nas quatro linhas: em 1992, quando visitava Chicago, nos Estados Unidos, durante um intercâmbio, Hemon acompanhou, atônito, pela CNN, imagens da guerra civil que eclodia em sua cidade natal, Sarajevo, o que o impedia de voltar. Foi obrigado a ficar e, como Nabokov, aprendeu o idioma inglês não apenas para se comunicar, mas, principalmente, para se tornar um escritor de primeira qualidade.

Basta observar sua carreira como ficcionista, iniciada em 2000, com E o Bruno?, que logo despertou a atenção da crítica ao falar sobre os anseios de um homem em uma situação de exílio forçado. Os confetes continuaram com os livros seguintes, como As Fantasias de Pronek, O Projeto Lazarus (eleito pela revista New Yorker a melhor obra de ficção de 2008) e a seleção de contos Amor & Obstáculos, todos editados aqui pela Rocco.

A mesma editora lança agora a primeira incursão de Hemon pela não ficção, O Livro das Minhas Vidas, em que o escritor bósnio se recorda dos verdes anos passados em sua cidade natal, do futebol de rua e dos jogos de xadrez, das disputas com a irmã mais nova e das viagens do pai ao exterior. Trata também de momentos delicados, como a sua nova vida nos Estados Unidos, e também da fuga da família que, junto com o cão, deixou para trás tudo o que um dia havia conhecido.

Se, na ficção, Hemon trafega com desenvoltura pelo nonsense, ao retratar a realidade adota um certo rigor, impondo limites que não o impedem, porém, de tratar tudo, mesmo tragédias, com graciosidade. Mesmo assim, na abertura do livro, ele confessa ter sido pressionado para, finalmente, escrever textos de não ficção. “É que gosto de esperar pela maturação das histórias na minha cabeça, mesmo aquelas inspiradas em fatos reais”, explica. “Quando escrevo algo inventado, tenho todo o tempo necessário para fazer as mudanças e alterações que quero, mas, ao contrário, quando tive de retratar minha infância e adolescência, não me permiti consumir tantos dias, pois, afinal, a história era uma só.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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