Aulas de história com rap

Embora ocorram dificuldade e cansaço no dia-a-dia na sala de aula, a tarefa do educador que tem vocação é gratificante. Outro dia, enquanto me dirigia para um encontro com a 8.ª C, turno vespertino, do Colégio Estadual Ângela Sandri Teixeira, em Almirante Tamandaré, encontrei a colega Amarilda Gulin, professora de matemática, que disse: Estive há pouco com o pessoal da 8.ª C e constatei que boa parte dos estudantes gosta de rap.

A palavra rap (rhythm and poetry) significa ritmo e poesia. Começou nos bairros de Nova Iorque na década de 70. As letras retratam as mazelas em que vivem os habitantes dos grandes centros e são apresentadas de forma discursada, com pouca música. Possui uma batida veloz e dinâmica.

No Brasil, o rap chegou na segunda metade da década de 80, em São Paulo. No começo foi discriminado, por ser considerado de periferia e violento, mas hoje tem o espaço garantido nas emissoras de rádio e de televisão, inclusive boa quantidade de CDs chega ao mercado anualmente, que tratam dos mais diversos temas.

Lancei um desafio aos discentes para a produção de letras de música rap. Houve entusiasmo e a maioria participou. Com criatividade, as letras focaram temas como guerra, corrupção e moradia. As mensagens são tão importantes que não poderia deixar de citá-las aqui.

As estudantes Joanita de Jesus Nascimento, Jucimara de Oliveira e Camila Fernanda Faria Cordeiro produziram a letra Guerra:

Eu não sei o que é o amor, destruição é só o que eu vejo.

Só vejo guerra e terror, pessoas gritando de dor.

Será que um dia o pai da guerra vai sumir?

Será que um dia esse mundo será melhor?

Tudo tem uma questão de esperança.

Eu sei que um dia vai acabar, mas quando será o fim?

Os grandes andam de uniforme, enquanto a gente vive com frio e fome.

Aqui é um lugar esquecido, mas também tem ajuda.

Clarice Serafim do Nascimento, Alyson Antônio Lopes Ceronato, Clayton de Jesus e Daniel Machado do Nascimento foram responsáveis pela letra A morte:

Outro dia liguei a televisão, ouvi falar de um tal de mensalão e que vários deputados são ladrões.

O que é verdade em tudo isso?

Roubam o que é meu, o que é seu, o que é de todos por direito.

Por que eu pago imposto há muito tempo?

Falaram-me que isso iria mudar, que parariam de roubar.

Dizem que a juventude é o futuro, perdi minha vida, não consigo levantar, está difícil até para respirar, minha esperança é ver o Brasil mudar, quem sabe meu filho tenha um lugar melhor para morar, agora estou pressentindo meu fim, só me resta dar adeus aos irmãos.

Já Mônica Cristina Brotto, Dayane Carneiro, Dayane Priscila Dias Machado, Kelly Camargo Eleodoro trabalharam Sobre o Brasil:

E aí irmão, falando francamente, se liga na idéia que passa em sua mente, drogas, crimes, corrupção.

Tá na hora de mudar, pensar em seu futuro, lutar e acreditar.

Agora veja a situação: o Brasil não vai pra frente, ainda drogas e crimes no comando, né irmão.

Há fome e gravidez na adolescência.

Tanta incompetência, meu Deus que vida é esta?

Enfim, irmão, o Brasil tá na pior, mas as coisas boas do País estão ai.

Considerações: Nesta experiência ficou constatado que a música ou o estímulo para produção de letras de música, sem dúvida, são recursos que o professor deve usar, principalmente, quando a música faz parte da vivência dos educandos, no caso o rap. As letras das músicas comprovaram que os discentes estão preocupados e participam dos problemas nacionais. Na disciplina de história se estuda o presente para entender o passado. Conforme Geraldo Teruya (2005) ?são as inquietações do presente que nos levam a reinterpretar o passado. A história é, portanto, uma ciência do presente?.

Jorge Antônio de Queiroz e Silva é palestrante, historiador, pesquisador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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