Raridade musical

Áudios raros de Tom Jobim podem ser lançados em 2015

A arca será aberta por Roberto de Oliveira. O homem que dirigiu programas e especiais para a TV Bandeirantes, vice-presidente da emissora de 2000 a 2005, protagonista em momentos históricos da música brasileira, esperou a safra das efemérides passar para não dividir a notícia com nenhuma outra da mesma origem que pudesse ofuscá-lo. Agora, estuda colocar na praça, em 2015, preciosidades em áudio e vídeo de Tom Jobim, muitas inéditas e outras vistas e ouvidas apenas em partes desmembradas no YouTube.

Roberto foi um dos homens que estiveram à frente do projeto Elis & Tom, de 1974, que resultaria em um dos mais importantes álbuns da história da fonografia brasileira. O disco saiu há 40 anos, mas as quase cinco horas de filmagens dirigidas por ele, não. Apenas um especial de pouco mais de 30 minutos foi exibido pela Bandeirantes, com trechos que também podem ser encontrados na internet. Como filhos do álbum, há o áudio de dois shows feitos no Brasil para o lançamento, um no Hotel Nacional, do Rio de Janeiro, e outro no Teatro Bandeirantes, de São Paulo. Apesar das complicações na liberação de direitos autorais, o produtor pensa em lançar este material junto com o vídeo dos bastidores de Elis & Tom.

Há em suas mãos ainda um terceiro item de potencial extraordinário. No primeiro semestre de 1994, Roberto ligou para Tom, propondo que ele gravasse um especial para a Bandeirantes ao lado de Milton Nascimento. Os dois seriam acompanhados pelo baterista Robertinho Silva, o percussionista Ronaldo Silva e o violoncelista Marcio Mallard. Tom tocaria piano e seu filho, Paulo, violão. Dentre as músicas estavam Samba do Avião, de Jobim, Vera Cruz, de Milton e Marcio Borges, e Olha Maria, de Chico Buarque. As gravações seriam feitas no Palácio do Itamaraty, no Rio.

Às vésperas da gravação, Roberto ligou para Tom e sentiu o maestro inseguro, querendo adiar o projeto. “Ele tinha de fazer uma cirurgia nos Estados Unidos e estava com medo, parecia alguma má impressão”, recorda o diretor. Tom havia sido diagnosticado com um tumor na bexiga, algo que havia lhe tirado o chão.

Sua ideia era deixar o encontro com Milton para depois da cirurgia, mas foi convencido por Roberto a fazê-lo. O especial foi gravado pelos artistas, conforme idealizou o diretor. Dias depois da gravação, Tom embarcou para o hospital Mount Sinai, em Nova York. Algumas horas depois da intervenção cirúrgica, Tom começou a passar mal, com dificuldades para respirar. Um coágulo sanguíneo parou em seu pulmão e acabou com as chances de comemoração pela retirada do tumor. Tom Jobim morreu. “Foi sua última gravação”, diz o diretor. O show é outro item que deseja colocar na praça em 2015.

Vinte anos antes da morte de Tom, em 1974, Roberto já havia percebido a história passar diante de seus olhos quando formou uma equipe de profissionais para registrar os bastidores de Elis & Tom. O álbum seria uma comemoração pelos 10 anos de Elis como contratada da gravadora Philips (só faltou a conta fechar, já que, em 1964, Elis chegava ao Rio e só seria contratada pela empresa em 1965). Um dos nomes sugeridos por Roberto foi o de Tom Jobim, que já havia emprestado sua Águas de Março para Elis gravar no álbum de 1972. Andre Midani, presidente da gravadora, autorizou o investimento e a empresa montou uma operação para a gravação do disco, entre 22 de fevereiro e 9 de março, no MGM Studios, em Los Angeles.

Roberto queria registrar tudo. Sua equipe de feras tinha o norte-americano Christopher Gray e os brasileiros Jom Tob Azulay, produtor, e Fernando Duarte, diretor de fotografia que havia trabalhado com longas do Cinema Novo.

Ainda antes de chegar aos Estados Unidos, Roberto pediu que fossem feitas imagens da chegada aos Estados Unidos de Elis e de seu marido e arranjador Cesar Camargo Mariano.

A maior parte do material filmado mostra técnicos, músicos e os próprios Elis, Tom e Cesar ouvindo canções que haviam acabado de gravar. Há momentos em que Elis discorda de algumas partes e tenta convencer o maestro de que ela quer regravar trechos. Nas entrelinhas, há uma tensão residual, dos primeiros dias em que Tom ainda tentava se acostumar com o fato de ter suas músicas arranjadas por Cesar Camargo Mariano e tocadas por contrabaixo, guitarra e teclados. “Mas a conta do estúdio vai ficar uma fortuna”, dizia, à sua maneira, quando queria disparar uma flecha.

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