Milton Lopes da Silva, um senhor super simpático, “devora” livros. Adora os livros espíritas, mas se aparece alguma dica de publicação em programas de rádio ou de televisão, ele se interessa também. Silva passa quase todos os dias na biblioteca. Em algumas vezes, leva para casa dois ou três títulos e devolve tudo logo. Ele vai totalmente contra a maioria dos brasileiros, que lê pouco. A média é de um livro por pessoa no País.
A procura intensa de Silva por livros já seria interessante a não ser por um fato: ele é deficiente visual. Aproveita a Seção Braile da Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba, para exercitar a mente com os audiobooks, os livros que foram transformados em narrações. Seja na própria biblioteca ou em casa, Silva não consegue mais se separar dos livros “contados”. “Venho na biblioteca cerca de 80% dos dias úteis e isso já faz quatro anos”, conta Silva, perdeu a visão há 12 anos.
Ele prefere os audiobooks pela comodidade. É possível levar para casa e ouvi-los enquanto realiza atividades domésticas, como lavar a louça ou arrumar a casa. “Mas eu não posso esquecer do braile, que será eterno. Então eu também leio livros em braile”, afirma. Nesta semana, ele foi até a Biblioteca Pública para escutar o livro Se abrindo para a vida, de Zibia Gaspareto, uma importante autora de livros espíritas.
Recentemente, a biblioteca adquiriu cerca de 70 títulos de audiobooks disponibilizados no mercado. No entanto, possui muito mais em seu acervo. Mais de dois mil títulos já foram transformados em audiobooks pelos funcionários e voluntários da Seção Braile, que atende somente os deficientes visuais. Atualmente, o processo é realizado por um programa de computador. Segundo o coordenador da seção, Airton Simille Marques, os livros são escaneados e todas as informações são transcritas para o computador. Os voluntários ajudam a realizar correção do texto e o próprio programa transforma as palavras em áudio. “Temos cerca de 100 usuários por mês e também atendemos muito por e-mail. Recebemos a solicitação e enviamos sem a pessoa precisar comparecer aqui”, explica.
O serviço também pode ser feitos em livros adquiridos pelos deficientes visuais que não fazem parte do acervo da biblioteca. “Outras bibliotecas do Paraná podem também nos solicitar os áudios. Basta mandar o CD para gravação. Assim é possível montar um acervo de audiobooks no interior”, comenta Marques, que trabalha na Seção Braile há 20 anos. De acordo com ele, a única diferença entre os audiobooks produzidos na biblioteca e os vendidos no comércio é a narração. “O programa tem a voz mecânica, com todas as pausas. Os do comércio são narrados por artistas de renome. Mas só agora o mercado está se voltando para isto. Antigamente nós fazíamos com voluntários gravando livros, o que demorava entre dois e três meses até ficar pronto. Hoje, se não tiver erros, é possível fazer de um dia para o outro”, revela. A seção tem mais de 22 mil títulos já transformados em texto. Assim que houver a demanda por um deles, pode virar um audiobook rapidamente.
Um destes voluntários é o comerciante Maurício Danderfer. Ele ajuda nas correção dos textos que serão transformados em áudio. “Estou aqui já faz nove anos”, declara. Ele vai quase todos os dias de manhã para a Seção Braile e no restante do dia se dedica à sua profissão. Os deficientes visuais que se interessam pelo serviço, assim como potenciais voluntários, podem comparecer diretamente na Biblioteca Pública do Paraná, na Rua Cândido Lopes, 133, no centro, de Curitiba.