Quando encontra uma pessoa como Laura Cardoso, você só pode mesmo fazer um pensamento positivo para que chegue aos 83 anos como ela, tão empolgada com a vida e com o trabalho como atriz. Ela não tem dúvidas de que aquela coisa de sair escondida dos pais para atuar nas radionovelas da Rádio Cosmos de São Paulo deu certo, e a trajetória seguiu êxitos durante toda a vida, do rádio à TV em alta definição.
Esse caminho foi revisto e narrado pela atriz à jornalista Júlia Laks, que lança hoje o livro “Laura Cardoso – Contadora de Histórias”, mais um título da Coleção Aplauso da Imprensa Oficial. No evento, no Shopping Frei Caneca, serão lançadas outras biografias, aproveitando a 34ª Mostra Internacional de Cinema. “Saía do colégio de trancinha para a rádio e continuo na ativa com mais de 80 anos”, diz ela, com indisfarçável orgulho à biógrafa.
Laura é hoje uma das atrizes mais requisitas da TV, que não lhe dá descanso – quando não está em personagem fixa, tratam de convidá-la para uma participação especial. Atualmente, ela é a Mariquita da novela das 18h da Globo, “Araguaia”, de Walther Negrão. Apenas na emissora, Laura participou de 24 novelas, a primeira delas, “Brilhante”, de Gilberto Braga, em 1981. “Hoje, depois de mais de 30 anos de TV Globo, torço para trabalhar com o Gilberto novamente”, confessa ela.
Laura é uma das poucas profissionais do rádio que conseguiu se adaptar rapidamente à chegada da televisão, em 1950. Um dos momentos mais divertidos do livro é quando ela conta a aventura dos primeiros passos na TV e, mais adiante, sobre chegada revolucionária do videotape. “O advento modificou o nosso processo de trabalho, na medida em que nos permitiu parar a encenação para corrigir erros. E, se por um lado as pausas garantiram um produto final sem – ou com poucas – gafes, por outro, interrompiam a emoção do momento”, detalha ela, para quem essa quebra da emoção, uma maneira de encenar tão diferente do teatro, foi a principal dificuldade dos atores no final dos anos 50.
Com voz grave e forte, perfeita para mulheres severas, como a Isaura de “Mulheres de Areia” (1993), Laura surpreende ao se mostrar uma pessoa de grande humor, que equilibra com leveza e coragem diante da vida. São muito engraçadas as histórias sobre como fugia de casa com a amiga Janete Clair, “para aproveitar os bailes, as festas”. “Participamos até de um programa, onde dançávamos diante do auditório lotado as músicas que o Henrique Foréis Domingues, o Almirante, cantava”, lembra ela, fazendo jus ao título do livro que é lançado hoje. “O ato de contar histórias é mesmo muito poderoso. Nessas horas, me sinto privilegiada por ser atriz. Tenho quase 70 anos de carreira e jamais escolheria outra atividade. Sou definitivamente uma pessoa do meu meio.”