Raquel Ripani.

Ao se reunir pela primeira vez com David Grinberg, diretor do departamento de dramaturgia do SBT, Raquel Ripani teve uma grata surpresa. A atriz, que interpreta a maquiavélica Débora em “Pequena Travessa”, viu os nomes das vilãs de diversas produções ao lado de sua foto nos arquivos da emissora. A obra, explicou o diretor, era de Fernando Rancoletta, produtor de elenco que sempre se lembrava da atriz ao se deparar com uma personagem de caráter duvidoso. “Das outras vezes, acabou não acontecendo. Mas foi bom porque agora eu me sinto mais preparada para assumir um papel deste peso”, avalia Raquel, num curioso misto de comedimento e orgulho.

Longe das novelas desde 1997, quando interpretou a jogadora de futebol Sissy em “Zazá”, da Globo, Raquel vive sua terceira vilã. A primeira foi uma cantora “do Mal” num episódio de “Sandy e Júnior”, em 2001, e a segunda uma moça fútil na peça “Gota D?Água”, de Chico Buarque, no mesmo ano. Apesar de às vezes se irritar com as maldades de Débora, a atriz garante que a vilã é sempre uma personagem mais interessante.

“Ela vive emoções que a mocinha não pode viver: sensações de raiva, ira, inveja, que também evitamos na vida. É uma catarse”, define, sem esconder o gostinho de satisfação. Raquel deixa claro, no entanto, que não sabe se reagiria da mesma forma a “energias mais pesadas” -caso a personagem fosse, por exemplo, uma assassina ou psicopata. “A Débora é só uma tonta, uma socialite sem cérebro. Ela não chega a me atrapalhar a dormir”, brinca a atriz, dorminhoca assumida.

Sono atrasado

O ritmo das gravações, no entanto, tem deixado Raquel com o sono atrasado. Gravando em média 30 cenas por dia, ela leva o travesseiro para os estúdios e aproveita qualquer intervalo para tirar um cochilo. “Já dormi até na cadeira de maquiagem”, confessa, às gargalhadas. A atriz, que nunca tinha trabalhado no SBT, elogia o ritmo de produção da emissora, que grava em cerca de quatro meses uma novela que fica de seis a sete meses no ar. “É uma espécie de internato. Mas, mesmo cansada, eu sinto que o trabalho rende, porque a equipe é maravilhosa”, derrama-se.

Raquel sai em defesa da emissora também quando o assunto é o investimento nas tramas mexicanas. Ela não poupa elogios ao trabalho de adaptação e garante que não vê muita diferença em relação às produções brasileiras. “Toda novela é um folhetim. Há sempre o mocinho, a mocinha e alguém que atrapalha o romance”, minimiza.

Precoce

Aos 28 anos de idade, Raquel já contabiliza 15 de carreira. Ainda adolescente, entrou para o grupo de Antunes Filho, conceituado diretor teatral de São Paulo. Depois de permanecer um ano e meio no grupo, a atriz trabalhou ao lado de outros grandes profissionais, como Paulo Autran, que destaca com indisfarçável orgulho. Raquel passou ainda um ano estudando teatro em Londres. Antes de concluir o curso, no entanto, a atriz recebeu um telefonema do diretor Jorge Fernando. “Ele disse: ?Volta para o Brasil, porque você tem de pegar um texto aqui?”, lembra Raquel. Era o convite para viver Sissy, personagem que Lauro César Muniz escreveu especialmente para ela. Hoje, a atriz acha que não reagiria da mesma forma, mas, à época, o convite foi irrecusável. “É muito difícil tomar certas decisões. Eu estava sozinha, com saudades do Brasil, e me aparece um diretor da Globo com um papel de destaque para mim”, tenta explicar, ressaltando, no entanto, que não se arrepende. “Acho apenas que agi de modo intempestivo”, julga.

Locutora

Ao lado da carreira de atriz, Raquel desenvolveu outra atividade que mantém quase como um hobby. Ela faz locução para campanhas publicitárias em rádio e tevê. “Para o ator, é um excelente exercício. Você tem de passar várias emoções sem a ajuda do corpo ou do olhar”, valoriza a atriz, que, entre outros, dublou um comercial da Brahma em que as tatuagens se desprendiam dos corpos de um casal na praia. Ela deu voz ainda às trigêmeas de um comercial da Intelig e a seis modelos que disputavam o título de Garota da Capa da “Playboy”, num concurso realizado em 2001. “Eu me especializei em voz de mulher gostosa”, brinca Raquel, com ares que não lembram em nada as maldades de Débora.

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