A nova versão de 5 X Comédia nasceu, uma vez mais, de uma iniciativa das irmãs Gardenberg – em 1993, a montagem foi criada por Sylvia depois de um encontro com Pedro Cardoso; agora, Monique se aproximou de Bruno Mazzeo por intermédio de Augusto Casé, produtor dos filmes de ambos. “Essa é uma homenagem a ela”, conta Monique sobre Sylvia, que era sua parceira na produtora Dueto e morreu precocemente em 1998, aos 38 anos.

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Como são cinco monólogos, Mazzeo comenta sobre a estranha sensação de estar solitário em cena, porém acompanhado pelos colegas nos bastidores. “Nunca me sinto sozinho e a interpretação depende do ‘diálogo’ com o público”, observa ele que, no espetáculo, vive Rodrigo, o clarinetista enlouquecido com a dura tarefa de fazer dormir o filho recém-nascido. “O que vem de volta vai ditando os caminhos. É uma experiência incrível e que me engrandece como ator.”

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Mazzeo respondeu a uma pergunta formulada por Fernanda Torres a convite do Estado, que também pediu a outros integrantes de antigas montagens (houve versões em 1993, 1995 e 1999) a apresentarem suas questões ao grupo que atualmente roda o País com a peça.

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As conversas, se trazem a informalidade como marca principal, também ajudam a entender a forma como o humor se transformou ao longo de duas décadas. “O que você vê de mais contemporâneo na linguagem dessa montagem?”, perguntou Claudia Raia a Lúcio Mauro Filho, que respondeu: “A gente manter a estrutura da comédia teatral, com texto, cenário, figurino. Afinal de contas, hoje em dia, o mainstream é o stand-up e sua despretensão de produção”.

Lucinho, que no espetáculo vive o frustrado organizador da orgia, também foi inquirido por Diogo Vilela, que buscou uma análise mais aprofundada sobre a forma como a graça pode trazer questões íntimas. “Você acha que o humor pode ser psicológico quando representado?”, questionou Vilela. E a resposta foi: “Acho que existe um componente psicológico em qualquer tipo de representação. O que importa é a dosagem que, no meu caso, deve ser mínima”.

Filho do grande humorista Lúcio Mauro, Lucinho foi ainda desafiado por Andrea Beltrão a apontar a diferença existente entre o humor dos anos 1990 e o atual. Para ele, que pode acompanhar ao menos três gerações de comediantes graças à carreira do pai, o ponto principal está na inflação do mercado. “Nos anos 1990, verificamos que o bom ator tinha que se arriscar no humor. Hoje, os jovens não querem mais ser guitarristas, nem DJs. Querem ser comediantes. Com isso, há uma certa saturação e até mesmo um nivelamento por baixo”, disparou.

Com tal comentário, Lucinho sai da zona de conforto e busca, voluntariamente ou não, chacoalhar seus colegas de profissão. Uma bem-vinda medida, aprimorada por outras questões formuladas pelos convidados, especialmente aos jovens componentes do novo grupo, cuja maioria ainda não atingiu os 40 anos de vida.

E coube, uma vez mais, a Diogo Vilela a missão de cutucar – para Debora Lamm, que interpreta a angustiada Branca de Neve, ele passou duas perguntas: “O comediante precisa se achar engraçado para fazer humor?” e “Você acredita que, para fazer humor, o comediante precisa ter técnica ou apenas o improviso?”. Debora, que se lembra de sair de uma sessão de 5 X Comédia no Canecão com as bochechas doendo de tanto rir, ofereceu uma resposta para as duas ponderações:

“Independentemente de a pessoa se achar engraçada ou não, ela deve fazer o espectador rir. A técnica da comédia é muito precisa, o improviso também não é simples, exige agilidade do pensamento. O comediante é o ator que tem o requinte de um olhar crítico, debochado, generoso. Questão de olhar”.

Para a mesma pergunta, Fabíula Nascimento, que vive a revoltada arara vermelha diante do novo mascote do pet shop, um poodle queen, foi sucinta: “Tudo é uma mistura de técnica com improviso”.

FERNANDA TORRES entrevista BRUNO MAZZEO

Costumo dizer que o 5 X Comédia era uma versão Las Vegas dos herdeiros do Asdrúbal e do Besteirol. A ideia de retornar com o 5 X rondou o grupo original, mas vocês vieram na hora certa, quando uma geração de novos atores e autores chegou à idade que tínhamos na época, 30 anos, idade Vegas, da maturidade. Qual a sensação de ter chegado aos 30?

Adorei isso de Vegas. O primeirão só assisti em vídeo. Concordo quando diz que foi a hora certa da retomada. Mas, sobre a sensação dos 30, agora que tô chegando aos 40, confesso que não lembro!

DIOGO VILELA entrevista DEBORA LAMM

O comediante precisa se achar engraçado para fazer humor? Você acredita que para fazer humor o comediante precisa ter técnica ou apenas o improviso? Espero que tudo dê certo para esse espetáculo que amei fazer!

Independentemente de a pessoa se achar engraçada ou não, ela deve fazer o espectador rir. A técnica da comédia é muito precisa, o improviso também não é simples, exige agilidade do pensamento. O comediante é o ator que tem o requinte de um olhar crítico, debochado, generoso. Questão de olhar.

DEBORA BLOCH entrevista LÚCIO MAURO FILHO

Qual é a dificuldade e qual é a grande delícia de fazer 5 X Comédia?

A dificuldade está em conseguir fazer um desenho interessante durante a cena, com colorido e espaço para a dinâmica, pois cada um só tem sua própria cena para apresentar. A delícia é poder estar representando uma grife que preza pela excelência em todos os setores, interpretação, texto, direção, cenografia.

E o que é comédia para você?

Aquilo que provoca riso, com menos explicação possível.

LUIZ F. GUIMARÃES entrevista FABÍULA NASCIMENTO

Como você se sente trazendo à tona um espetáculo que foi um marco de público em todo o Brasil? Esse modelo de teatro muda alguma coisa para você como ator ou atriz?

Eu fiquei muito feliz quando recebi essa oportunidade e também sinto muita responsabilidade, é um peso gostoso. Teatro é teatro, cada espetáculo tem um modelo diferente e o exercício real é o de nos transformar em cada projeto. Ser atriz é transformar, então, sim, esse modelo me levou para outros lugares, e a riqueza está exatamente nisso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.