Mário Frias : ?É a vida que eu pedi a Deus?. |
Ao contrário dos morcegos e vampiros, que esticam as asinhas noite a dentro, Mário Frias considera-se um “cara do dia”. Por isso mesmo, não tem do que reclamar. Como a maior parte de suas cenas em “O Beijo do Vampiro” são gravadas de noite, o ator pode se dar ao luxo de ir à praia e praticar esportes sob o sol do verão carioca. De quebra, mantém em dia o bronzeado do surfista Roger, seu personagem na novela de Antônio Calmon. “Essa é a vida que eu pedi a Deus. Trabalhar no que gosto e ainda ter um tempinho para jogar bola e surfar”, esnoba Mário, com os olhos pregados na quadra de futevôlei onde jogaria logo após a entrevista, na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
De fato, Mário Frias tem, no gosto por surfe e praia, um ponto em comum com seu personagem. Mas isso não contou contra nem a favor para que aceitasse o papel. Na verdade, ele foi confirmado no elenco sem fazer idéia do que o aguardava. “Caí de pára-quedas. Só me inteirei ao receber os capítulos”, confessa. Como não é muito chegado a “laboratórios” – nos quais o ator vai a campo e se sujeita a experimentações para compor um tipo -, Mário se dedica a ler atentamente o texto. “O Calmon escreve com riqueza. Tudo que eu preciso está ali”, alega o ator, garantindo que tem muitos amigos como o Roger e, portanto, há anos faz “laboratório” para interpretá-lo.
Inicialmente, o personagem do núcleo jovem da novela teria um caráter duvidoso, com traços cômicos. Com o desenrolar da trama, porém, Calmon resolveu transformá-lo em bom rapaz. A redenção veio pelo amor. Roger se apaixonou por Ciça, personagem de Bianca Castanho. Depois que reatou um namoro com a bela, virou seu protetor contra o sanguessuga Victor, de Gabriel Braga Nunes. “É ótimo pegar um personagem dinâmico, que não fica sempre na mesma nota”, valoriza.
A carreira de Mário começou de uma maneira inusitada. Aos 15 anos, ele se preparava para trocar o Rio de Janeiro pelo Sul do país, onde pretendia jogar vôlei em algum time regional. Mas uma prima lhe pediu que “quebrasse um galho”. No caso, fazer a abertura da novela “O Campeão”, de Ricardo Linhares e Mário Prata, exibida na Band em 96. “Precisavam de um cara com pinta de galã que jogasse bola. Acabei gostando do negócio”, conta. Logo em seguida, participou da novelinha “Caça Talentos”. Depois, vieram as participações em “Malhação”. Primeiro como o mau-caráter Ivan, em 97. Depois, como o mulherengo Escova, em 98. No mesmo ano surgiu uma oportunidade em “Meu Bem Querer”, de Ricardo Linhares. Seu personagem, o tímido Patrício, era atacado por uma súbita gagueira toda vez que encontrava-se com a namorada Lara, de Carolina Abranches.
Em 99, Mário emplacou o primeiro protagonista. Era o estudioso Rodrigo, que apaixona-se à primeira vista por Tatiana, de Priscila Fantin, numa das incontáveis fases de “Malhação”. O papel fez do ator campeão de cartas na Globo durante um ano, com uma média de 2.500 por mês. “Devo meu crescimento profissional – como ator e como pessoa pública – à experiência que vivi em ?Malhação?”, discursa Mário, que passou dois anos no “folheteen”. Em 2001, o par romântico com Priscila se repetiu em “As Filhas da Mãe”, de Sílvio de Abreu. Desta vez, interpretou o aprendiz de estilista Diego, filho do hilário Manolo, de Tony Ramos. “Foi um privilégio contracenar com atores como o Tony, Cleide Yáconis, Flávio Migliaccio… Eu ficava só observando os ?feras? trabalhando”, conta. No ano passado, Mário ainda viveu Manoelzinho, o primeiro caso de Domitila, de Luana Piovanni, na minissérie “O Quinto dos Infernos”.
Música e circo
Diferentemente de boa parte dos atores televisivos de sua geração, Mário Frias faz questão de conciliar novela e teatro. Atualmente, está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “Dê Uma Chance Ao Amor”, ao lado da atriz Nívea Stelmann, com quem é casado. No palco, a dupla encena um jovem e imaturo casal, que decide morar junto sem se conhecer direito. Aos poucos, a paixão vai dando lugar às brigas e à rotina, com os problemas típicos do dia-a-dia. O ator também é produtor da peça de Heloísa Perissé, com direção de João Brandão. “Produzir as próprias peças virou uma necessidade para o ator. Ninguém tem dinheiro nesse país e é preciso criar com orçamento apertado, buscando alternativas”, explica.