A rotina do ator Marcel Szymanski mudou durante as últimas semanas. Para personificar o policial evangélico no filme paranaense Circular, ele se despiu da sua realidade para embrenhar-se na esfera de Samuel.

continua após a publicidade

O projeto foi vencedor do Edital de Longa-Metragem de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura e é o primeiro longa-metragem de Aly Muritiba, Adriano Esturilho, Bruno de Oliveira, Fábio Allon e Diego Florentino.

Para que a imersão fosse total, o ator viveu durante uma semana na pele de Samuel: diariamente, um motorista o levava até Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, onde fica a casa-locação.

Logo que descia do carro, já estava trajado com o figurino que o conduziria ao mergulho na personagem. O intenso processo ainda incluiu frequentar igrejas evangélicas e treinamentos na Rone, grupo de elite da Polícia Militar.

continua após a publicidade

Para resolver os seus assuntos pessoais, Marcel tinha somente uma hora por dia. Esse era o tempo que ele usava para tratar os dois gatos, pagar contas e checar emails, por exemplo. A maior parte do dia era reservada para a convivência e improvisação com os atores que interpretam a mãe, a filha e o irmão.

Tendo o teatro como o lugar onde permanece a inscrição dos seus desejos, Marcel é um dos integrantes da Cia. Portátil e ainda atua em outras montagens. No ano passado, fez Amoradores de rua, com direção de Rafael Camargo e agora está envolvido na peça Pixain, do mesmo diretor, que retorna aos palcos no próximo dia 9 de julho.

continua após a publicidade

O Estado do Paraná: Como o teatro influencia o seu trabalho no cinema?

MS: Comecei minha trajetória artística a partir do teatro. Quando surgiram as primeiras participações em cinema, me apoiava sempre em tudo que havia apreendido nos espetáculos que fazia e assistia.

Hoje, procuro uma inspiração mais natural, sem grandes técnicas nem virtuoses. Sem dúvida, as duas artes dialogam uma com a outra, principalmente no que se refere à interpretação. Tento transportar a naturalidade que busco no teatro para o cinema. Na verdade, busco fazer o caminho inverso e trazer pro teatro a sutileza do cinema.

O Estado:Como foi atuar no filme Estômago, que obteve grande repercussão e recebeu diversos prêmios?

MS: Foi uma experiência muito gratificante, pois tive a oportunidade de trabalhar com profissionais extremamente qualificados para o projeto, o que me instigou a buscar mais informações sobre cinema e me inserir neste meio. As participações que se seguiram em cinema posteriormente, sem dúvida foram, em parte, fruto deste trabalho.

O Estado: Como está sendo a experiência de participar do filme Circular?

MS: Muito prazerosa e intensa, pois o processo de criação foi bastante produtivo: fizemos uma espécie de “mergulho” nos personagens, onde permanecemos durante uma semana convivendo na própria locação. Isso trouxe um maior entrosamento entre os atores, o que se reflete na ação.

Essa intimidade ocorre com mais frequência no teatro. Destaco também o vigor com que os diretores conduzem o trabalho, o que contagia toda a equipe e torna a experiência ímpar. Esse é o primeiro protagonista que realizo no cinema e fico feliz que tenha sido com essa equipe.

O Estado: Como se desenvolvem os trabalhos e qual o foco de pesquisa da Cia. Portátil?

MS:Temos, além de nossa identificação artística, um laço de amizade muito forte. Crescemos praticamente juntos, nossa parceria vem ainda do tempo do Colégio Estadual do Paraná.

Desde então, nos reunimos pra discutir sobre os trabalhos já apresentados (Linguiça no campo, As fabulosas, Pretà-porquê, Relações) que continuam participando de festivais, e aglutinar idéias para as próximas criações. Nos preocupamos mais com a pesquisa e com o processo do que com prazos pra conceber os espetáculos, respeitamos o nosso tempo pra que os trabalhos sejam mais honestos; o nosso foco é a elaboração de uma situação cômica, onde o personagem prov,ém do referencial do intérprete e das possibilidades geradas pelos recursos cênicos, desmembrando possibilidades visuais, sonoras e sensoriais, aliadas ao que chamamos de “suspensão” de situações cotidianas.

O Estado: Quais os seus próximos planos?

MS: Retomar a pesquisa de comédia desenvolvida pela Cia. Portátil, da qual faço parte e que me mantém sempre instigado. Em agosto estréio um espetáculo infantil dirigido por Edson Bueno; e dar continuidade à projetos já iniciados, como o espetáculo Pixain, com direção de Rafael Camargo, que volta em cartaz no Teatro José Maria Santos.