Foram apenas três meses, mas Bruno Perillo não voltou incólume de sua passagem por Londres, em 2003. Durante a viagem, o ator e diretor teve contato com textos da dramaturgia inglesa contemporânea e o interesse foi tanto que, quase inconscientemente, criou uma trilogia. Depois de dirigir Velhos Tempos, de Harold Pinter, e O Campo, de Martin Crimp, ele estreia, nesta quinta-feira, 27, no Sesc Pinheiros, Ato a Quatro, texto escrito por Jane Bodie.

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“Os autores são bem diferentes, é difícil comparar”, diz Perillo. “Mas, apesar de serem de épocas diferentes (‘Velhos Tempos’ é dos anos 1970, enquanto os outros dois são dos anos 2000), mexem com questões do mundo contemporâneo que me interessam bastante.”

Ao conversar com Bodie por e-mail, Perillo descobriu que a dramaturgia da peça carrega fatos da vida da autora. “Levar elementos pessoais ao texto é, também, uma tendência do teatro contemporâneo”, analisa.

Em Ato a Quatro (originalmente Fourplay), Alice (interpretada por Nicole Cordery) é uma ex-atriz que passa a trabalhar como enfermeira particular e leva um casamento, já meio morno, com o ator Tom (Luciano Gatti). Enquanto ele se mostra animado e envolvido nos preparativos para seu próximo espetáculo, ela dá sinais de desgaste, intensificados pela enfadonha rotina profissional. São os parceiros de trabalho de ambos que provocam a mudança nos rumos da relação: Tom deve lidar com as provocações de Natasha (Joana Dória) nos ensaios do espetáculo e, ao mesmo tempo, Alice tenta entender as esquisitices de Jack (Edu Guimarães), que divide com ela a mesma paciente.

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O enredo corre em 25 cenas curtas, uma imediatamente seguida da outra, conferindo ritmo à encenação. Das discussões entre os personagens surgem questões comuns em relacionamentos contemporâneos: apatia, ciúmes, perseguição, traições, desejos de mudança.

Na direção, Bruno Perillo coloca todos os personagens no palco o tempo todo, mesmo que apenas dois deles estejam atuando em primeiro plano. Dessa forma, as cenas ganham outras camadas e podem ser interligadas de maneira mais eficaz.

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“A fusão espacial e temporal de cenas dá conta do que eu tento discutir”, afirma o diretor. “Estamos afogados nessa quantidade de informações que recebemos todos os dias. O mundo virtual se confunde com o real, e vivenciamos uma realidade fragmentada.” Para ele, a sociedade aceita essa nova condição sem críticas, por isso o teatro seria o espaço ideal para uma análise distanciada da situação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.